Tudo parece ser possível no Brasil. Sente-se que assim foi decretado, se tomarmos por base os acontecimentos que vieram a público nos últimos tempos. Por exemplo, a revelação da intimidade dos partidos políticos, como o que se tem assistido na exposição da luta interna pelo controle do PSDB, uma agremiação concebida sob a aura da mediação e que abriu à visitação pública a briga de seus caciques, contra ou a favor de sua permanência nas instâncias de poder do governo Temer. Além, é claro, das censuras públicas a seu presidente, o senador Aécio Neves. Ao lado, a realidade do PT, no qual expressiva monta de seus dirigentes está condenada e presa, enquanto outros se veem à espera do camburão, a exemplo de seu líder maior, o ex-presidente Lula. São fatos que marcarão para sempre a história fragilizada e vergonhosa dos partidos brasileiros, aí incluindo PMDB, PP, PTB e outros “Ps”, todos com uma ponta do rabo preso nas celas da Polícia Federal.
“O Brasil não é um país sério”, frase atribuída erroneamente ao presidente De Gaulle, é nos dias de hoje uma sentença incontestável. Dita por quem quer que a tenha dito. As conclusões da operação Lava Jato, infelizmente, são um exemplo disso. Em seus quase quatro anos de trabalho, ela já produziu perto de 130 réus, tendo sentenciado mais de 40 desses, muitos já encarcerados e outros ainda aguardando em liberdade o julgamento em segunda instância de suas condenações. Não são ladrões de galinha: são ex-ministros, governadores, senadores da República, deputados, altos dirigentes de estatais, empresários donos das maiores empresas nacionais.
Trazidas a público as investigações, as confissões e delações premiadas, vê-se como somas importantes de recursos públicos foram facilmente desviadas do Orçamento público para formar patrimônios bilionários, traduzidos em malas de dinheiro, reservas no exterior, imóveis de luxo, joias, sítios, fazendas, carros importados. É o espelho de nossas escolhas através do voto em candidatos, muitos, talvez a grande maioria, sem qualquer preparo moral e sem compromissos dos quais poderiam se servir para produzir as soluções de que o Brasil tanto carece e espera. Sem cuidados elementares, nosso voto produziu hordas de bandidos que, investidos de poder e sem o mínimo recalque, furtaram para si reservas públicas que preservadas já seriam insuficientes para o atendimento digno de demandas essenciais da sociedade.
Esse perfil de homens públicos existe entre nós há décadas. Eles não nos chegaram agora. Renovam-se sempre, com a ajuda de nosso voto, dentro de famílias com sobrenomes, de suas quadrilhas. Nada muda, e parece que nunca vai mudar. Por exemplo, em paralelo, estão em ação no Brasil movimentos sustentados com dinheiro público aplicado em dizimar a atividade do agronegócio, a única que, mesmo no vigor da crise, produziu, exportou, empregou mão de obra. Na semana passada as redes sociais mostraram a selvageria com a qual foram criminosamente arrasadas lavouras e instalações rurais no Sul da Bahia, em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, sem que se mexessem de seus lugares forças de segurança para atuar em defesa de tais propriedades. A Cemig, em BH, foi ocupada pelo MST, que reivindica a instalação de eletricidade em seus acampamentos. Quais são, onde estão e o que se produz em tais acampamentos? A agenda de reformas, que a sociedade tanto espera, não saiu do lugar. Ao contrário, foi adiada porque, implantadas, elas afetariam privilégios, e as eleições serão no próximo ano. Triste realidade de um país que parece não querer nunca tornar-se sério.
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