Era, felizmente. Porque foi essa figura que comprou, durante anos, com nosso dinheiro, mais de 1.800 políticos em todo o Brasil, que a seu juízo poderiam favorecê-lo em sua obstinação de acumular poder e fortuna a qualquer preço, preferencialmente o da corrupção. Esse foi sempre seu caminho predileto, sempre também pavimentado pelo ganho fácil com menor trabalho. Dele e dos que o ajudaram. As últimas revelações publicadas das ações da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, iniciadas em Curitiba e ampliadas para todo o país, são, antes de mais nada, a certeza de que o Brasil se tornou um Paraguai, justiça seja feita, apenas nas coisas ruins, para não ofender o país vizinho.
Assistimos ao depoimento do ex-ministro Antonio Palocci, segundo o próprio, um pequeno capítulo de um livro histórico de corrupção em quase todos os atos dos governos Lula e Dilma Rousseff. Não digo que esse foi o momento da instalação da corrupção no Brasil, mas trata-se do período que ele, Palocci, conheceu e usou, em detalhes de tais artifícios. A corrupção no Brasil data de décadas (Geddel ainda tomava Toddynho dos outros), em maior ou menor valor, mas atualmente ela está medida em número de malas, tal o descaramento que vige em todas as instâncias de poder. Melhor, dos Poderes da República. No caso narrado por Palocci, era dinheiro para tudo, até para o ascensorista que se ocupasse de levar entregadores ao terceiro andar do Palácio do Planalto. Somas fabulosas de dinheiro, pagas para remunerar liberações de empréstimos no BNDES, para fraudar medições e contratos nas estatais de energia, na Petrobras, nos bancos oficiais, onde houvesse o que furtar. A apreensão de recursos em contas nos paraísos fiscais, na conversão de patrimônios comprovadamente adquiridos ilegalmente, ou a devolução espontânea de dinheiro feita por interessados em aliviar suas penas já montam a quase R$ 7 bilhões; se tal soma se refere ao que a pressão do Judiciário conseguiu reunir, podemos imaginar o que ainda se acha enrustido em apartamentos Brasil afora, sítios, fazendas e imóveis escriturados em valores subfaturados, em contas ainda não descobertas, em ajudas a eventos festivos de fundações realizados em Portugal, em empréstimos fajutos que dispensam contratos, notas promissórias ou outros instrumentos de garantia.
É por essas razões e pelas que ainda vamos conhecer – todos nós temos certeza – que o artigo publicado neste mesmo espaço na última semana defendeu a imediata privatização de tudo que neste país ainda é patrimônio público. Tudo e rapidamente, para vermos ainda sobrar alguma coisa no caixa do Tesouro, para não nos transformarmos definitivamente numa geração de indignados com o assalto permanente ao patrimônio público sem que possamos apenas assistir a tais descalabros. Para vermos na cadeia, que é onde devem morrer, os Odebrecht, os Joesleys Batistas, os Sauds e outros milhares aos quais ainda não chegou a mão da Justiça. Mas chegará, esperamos.
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