Os indicadores econômicos mostram que a recessão ficou para trás e que há sólidas evidências de que o PIB crescerá em 2017 e 2018. Entre analistas e na população em geral, amplia-se a percepção de que a economia está desassociando-se da política. A despeito das denúncias e investigações de corrupção envolvendo políticos, inclusive o presidente Temer e dois de seus principais ministros, da tensão entre os Poderes da República e da baixíssima confiança da população no governo e no presidente, a economia vai se ajeitando, o consumo aumentando e o desemprego caindo.
Seria possível a economia crescer em ambiente de anomia política?
Esse aparente paradoxo não é novidade no Brasil. Basta ler as memórias do presidente Fernando Henrique para encontrar evidências dessa dissociação no segundo ano de seu segundo mandato, quando o PMDB passou a fazer parte importante da base aliada do governo. Seria mera coincidência?
Em 2000, depois da forte desvalorização do real e da construção do tripé de política macroeconômica – câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal –, a economia retomou sua expansão, atingindo 4,11%, após crescer lentamente em 1998 (0,34%) e em 1999 (0,47%).
O ambiente político estava à época bastante instável. No volume 3 dos “Diários da Presidência”, FHC reclama: “Os jornais continuam um desastre, é só crime, corrupção, bandalheira, verdadeiras às vezes, ou quase sempre, mas esse foco deixa de lado tudo que está sendo feito no Brasil”. E observa: “A questão econômica vai bem, a social é preocupante e a política é caótica”.
A situação atual pode apresentar alguma semelhança com a do passado. Todavia, uma análise mais atenta revelará diferenças significativas. As condições políticas atuais são muito mais frágeis e mais graves. A operação Lava Jato, as consequências do impeachment de Dilma e a vulnerabilidade, quer ética, quer política, do presidente Temer e de expressivas lideranças parlamentares paralisam as ações do governo, geram permanente instabilidade política e corroem o pouco de confiança que ainda restou na população.
O crescimento da economia, no entanto, está firmemente ancorado no aumento do consumo, que resulta da queda expressiva da inflação, e nas condições externas positivas, como o baixo risco Brasil nos últimos anos, conforme mostram os índices EMBI, as expressivas reservas cambiais e o crescente aumento no saldo da balança comercial. Há hoje maior solidez em fundamentos econômicos essenciais para sustentar o crescimento.
Baseada nas condições externas favoráveis e na estabilidade de preços, a economia cresce, apesar da crise política. No entanto, a política afeta, sim, a economia por meio da gestão fiscal. A vulnerabilidade da economia está hoje no desequilíbrio fiscal, com persistência de elevados déficits orçamentários levando a relação dívida pública/PIB para níveis insustentáveis. A economia está imune à crise política, mas continua refém da política.
Economia e política têm encontro marcado nas eleições de 2018.