Não há dúvida de que vivemos tempos perigosos. A radicalização política, se prevalecer nas eleições de outubro próximo, só servirá para enfraquecer nosso incipiente regime democrático, que exige reformas urgentes e profundas. A político-eleitoral é essencial ao surgimento de novas lideranças. Sem ela, o país continuará sem saída.
Tanto os governos do PSDB (dois mandatos de FHC) quanto os do PT (dois de Lula e um e meio de Dilma) perderam oportunidades históricas. Reformistas em seus programas, além de defensores intransigentes da democracia e (no início) da ética na política, na prática desperdiçaram todas as chances de imprimir novo rumo ao país. Em nome da sobrevivência, os três buscaram alianças fisiológicas, obviamente descomprometidas com os reais interesses do povo. À parte os acertos de um e de outro, continuaram com o mesmo modelo de governo. Isso só poderia desaguar no mensalão e, depois, na Lava Jato.
Ao contrário do que afirmou o juiz Sergio Moro, em Harvard, na última segunda-feira, durante painel sobre crimes do colarinho-branco, nossas instituições democráticas vivem hoje crise realmente grave. Ainda incipientes, mas conquistadas a duras penas há três décadas, vivem momento desafiador. Se não soubermos preservá-las, ruirão diante dos duros testes que virão por aí. Como sempre, as ameaças partem tanto dos radicais da direita quanto da esquerda, ambos os grupos dominados pela intransigência, pela intolerância e, pior ainda, pelo ódio.
Algumas vozes se levantam timidamente contra isso. Elas, todavia, não estão dando conta de enfrentar esse clima hostil que se manifesta em qualquer roda de conversa, por mais tolerante que seja.
O jornalista Nelson Motta tem sido uma dessas vozes. Com bom humor, o clima de intolerância e ódio que tomou conta da política foi outra vez abordado por ele, na semana passada, em sua coluna “Tolerância é quase amor”, no jornal “O Globo”. Referiu-se a um caso que, com certeza, é “mais que uma lição de tolerância e respeito pelo outro”. Trata-se do que ocorreu na campanha presidencial norte-americana de 1982, entre o democrata James Carville, marqueteiro do candidato Bill Clinton, e Mary Matalin, chefe da campanha do republicano George Bush. Os dois adversários, que antes se odiavam, se apaixonaram e estão casados há 25 anos; hoje, são pais de duas filhas. Diz Motta: “Conto essa história de amor e tolerância na esperança de que inspire os amigos que vejo brigando e se defendendo por políticos que não valem um abraço”.
Em depoimento recente a dois amigos (Miguel Darcy de Oliveira e Sérgio Fausto), transformado em livro, o ex-presidente Fernando Henrique chama a atenção para o risco que corre o país: “Estamos diante de uma encruzilhada: ou bem seremos capazes de reinventar o rumo da política, ou cedo ou tarde a indignação popular explodirá nas ruas, sabe-se lá contra quem e a favor de quê. Ou, o que é pior, o reacionarismo imporá ordem ao que lhe parecerá o caos”.
Em 2019, o país será o resultado de nossas escolhas. Não tenho receita nem fórmula mágica, mas apenas a certeza de que não podemos eleger quem represente o aprofundamento desse racha odiento que divide a sociedade brasileira. O populismo que boa parte das esquerdas defende ou o retorno ao autoritarismo, fardado ou não, que deseja a direita radical, qualquer deles só nos levará ao caos. E é disso, leitor, que deveremos tratar nas eleições que se aproximam.
A radicalização política é a grande adversária do regime democrático
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