Já se disse, em países do Primeiro Mundo, que a capital do Brasil é Buenos Aires e que aqui se fala espanhol. O ex-presidente Ronald Reagan já confundiu o Brasil com a Bolívia (não há na lembrança nenhuma alusão pejorativa ao país vizinho). Charles de Gaulle foi mais longe: não o considerava um país sério. Por essas e outras, o escritor Nelson Rodrigues, ao afirmar que o brasileiro não tem autoestima, criou a expressão “complexo de vira-lata”: “Por complexo de vira-lata entendo eu” – disse Nelson – “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”.
Se há ausência de autoestima no brasileiro, a causa maior não está, obviamente, na falta de pretextos pessoais ou históricos. Tivemos e temos, em vários setores (vimos isso nas Olimpíadas), grandes ídolos e tivemos e temos, igualmente, alguns bons pretextos históricos.
Digo que tanto o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, há mais de 23 anos, quanto o de Dilma (que será decidido a partir de hoje, no Senado Federal, e que, certamente, porá fim a um período de equívocos desastrosos) são exemplos recentes (e bons) de que nem sempre erramos. Existem, e sabemos disso, episódios em nossa história que nos orgulham. Nelson era um dramaturgo apaixonado.
A festa das Olimpíadas 2016 é mais uma prova de que o brasileiro tem autoestima. Não chegaria nunca ao ponto de admitir, como o escritor Alberto Torres (26.11.1865-29.3.1917), que “somos o povo mais inteligente e sensato do mundo”. Sensatez, aliás, é o que mais nos falta. E olhe que o homem foi um respeitado jurista, além de ministro do STF; foi jornalista, político e, como tal, deputado estadual e federal e, também, ministro da Justiça, abolicionista, republicano e nacionalista.
Todavia, podemos dizer, sem nenhum complexo, alto e bom som, agora e sempre, que as Olimpíadas 2016 (fruto, contraditoriamente, da decisão irresponsável dos governantes delirantes da época), genuinamente brasileiras, mostraram a nós e ao mundo que somos capazes (como qualquer outro povo, aliás) de planejar e executar uma belíssima festa para receber 206 nações. Cometemos erros e recebemos críticas no início, mas os elogios vieram em tempo e não só daqui, mas do exterior. Que povo, além do brasileiro (devem ter-se perguntado muitos estrangeiros), seria capaz de realizar uma edição das Olimpíadas em meio à mais grave crise de sua história – política, econômica e ética?
Respondemos ao preconceito e à desinformação (sempre maldosa) com um espetáculo de diversidade. Somos um país criativo e decidido a se tornar uma nação respeitada e que prima, principalmente, pela democracia, que tem na liberdade sua principal âncora para a construção de um país socialmente justo.
A partir de agora, nosso maior dever é não permitir que a euforia da festa sirva de biombo para esconder nossos velhos problemas. Precisamos enfrentar, com a mesma disposição de nossos atletas (incluo aqui os que não conquistaram medalha, mas cumpriram seu papel), nossos desafios – na educação, na saúde, na segurança, na criação de empregos etc.
Acabou a festa das Olimpíadas e, certamente, acabará a interinidade do presidente Michel Temer. Cabe-lhe, agora, interpretar o que quer o povo e, acredite, sob pena de não concluir seu mandato.
Mãos à obra, presidente!
Cabe agora ao presidente Temer interpretar o que o povo deseja
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