Todo político sem causa é um corrupto em potencial: usa o poder para enriquecer ou para ficar no poder. Por isso, a escassez de bons filósofos é tão grave quanto o excesso de maus políticos.
Até recentemente, havia filosofias que empolgavam os debates políticos: capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, desenvolvimentismo e nacionalismo, oferecendo bases filosóficas que justificavam as causas das lutas dos políticos.
Com a globalização, a robotização, a comunicação instantânea, a crise ecológica, a pobreza persistente, a desigualdade crescente, a migração em massa, o fracasso do socialismo e as injustiças do capitalismo, essas filosofias ficaram ultrapassadas, sem bandeiras claras no horizonte filosófico e político.
Nesse vazio de propostas, surgem três alternativas possíveis para orientar o comportamento político. A “filosofia do conformismo” justifica aqueles que assistem sem reação nem alternativa à marcha da história em direção à modernidade técnica descontrolada, aceitando que o progresso global provoque desemprego estrutural, separe as pessoas por “mediterrâneos invisíveis”, muros e cercas, desequilibre a ecologia e generalize as drogas e a violência, assistindo às crianças sem futuro. Por essa filosofia, o caminho seguido nas últimas décadas é inexorável e não caberia à política controlar o rumo social.
A “filosofia da resistência” é praticada por aqueles que não aceitam a marcha do avanço tecnológico, mas não buscam propostas alternativas: limitam-se a lutar para impedir o progresso técnico e fechar as fronteiras nacionais; defendem direitos adquiridos no passado, sem buscar entender quais desses direitos ficaram obsoletos e quais amarram o futuro e que novos direitos precisam ser conquistados.
A “filosofia da construção” aceita o progresso em marcha, mas não se acomoda aos desastres sociais e ecológicos que ele provoca. Comemora o avanço técnico e a globalização, mas ao mesmo tempo busca definir regras para manter o equilíbrio ecológico, salvaguardar as diversidades, inclusive nacionais e educar as novas gerações para um futuro com emprego reduzido e protege os que ficam desempregados, mas com tempo livre bem ocupado e com renda mínima assegurada.
Tenta propor um progresso que respeite a natureza, substitua o PIB pelo bem-estar, promova atividades culturais, seja responsável com as finanças públicas. Estabeleça um piso social que assegure a todos o atendimento dos bens e dos serviços essenciais e também um teto ecológico acima do qual ninguém poderá consumir.
A formulação dessa “filosofia da construção” é um desafio para aqueles que desejam fazer política com causa, sem ignorar nem naufragar nas vertiginosas transformações que ocorrem no mundo contemporâneo.
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