O governo foi pego de surpresa com a decisão da agência de risco Standard & Poor’s de reduzir a nota de crédito do país. A medida corresponde a uma declaração de que o Brasil não é um lugar seguro para se investir.
Em sua justificativa, a S&P alegou que a classe política não quer enfrentar a crise fiscal e que o apoio que o governo tem no Congresso é insuficiente para aprovar as medidas de ajuste, como a reforma da Previdência.
É verdade. Apesar de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmar que os congressistas não faltaram ao governo, estes, de olho nas eleições, não ousam contrariar as percepções do eleitorado, que é contra a reforma.
Por conta das denúncias contra Temer, a matéria está parada no Congresso desde maio de 2017 e só deverá ser votada, se for, no dia 24 de fevereiro próximo, já bastante descaracterizada em relação ao projeto original.
Segundo o presidente do Senado, Eunício Oliveira, o governo errou ao não optar por uma reforma mais enxuta. A perspectiva de derrota, no entanto, vem fazendo o governo ceder em vários pontos importantes.
Isso é apreendido pelo mercado, que tem poucas expectativas de que o governo seja bem-sucedido. As próximas eleições deixam tudo muito incerto, se não adiam as decisões para o governo que vier a ser eleito.
O futuro do país está nas mãos dos eleitores. Estes erraram seguidamente. No lugar da alternância no poder, instituiu-se a reeleição. Em vez de preservar os acertos de um governante, ela manteve seus erros.
A decisão da S&P vai ter repercussões no mercado. Bancos e empresas estatais serão também rebaixados, aumentando as dificuldades para captarem recursos no exterior. Mas pode haver também um efeito positivo.
Quem sabe os políticos se decidem a enfrentar a crise fiscal, começando por votar a reforma da Previdência e também as outras minirreformas? As últimas derrotas do governo não são só dele, mas do Brasil.