A capital federal acaba de construir seu primeiro aterro sanitário. Se fosse de fato uma cidade moderna, ela deveria ter previsto onde depositar (e tratar) o seu lixo em 1960, quando foi inaugurada. Enquanto isso, a cidade viu crescer o maior lixão da América Latina a 15 km do Planalto.
A realidade de Brasília é a da maioria das cidades brasileiras. Desde 2010 que o país tem uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, que previu o fim dos lixões até 2014, prazo depois prorrogado para 2021. Apenas metade do lixo produzido no Brasil vai para aterros sanitários.
A construção de aterros sanitários facilita a reciclagem do produto descartado. No entanto, dos quase 80 milhões de toneladas de rejeitos produzidos anualmente, o país só reaproveita 3% do total. A economia perde cerca de R$ 120 bilhões por ano ao não reciclar o lixo produzido.
Em Belo Horizonte, a reciclagem atinge apenas 1,5% do lixo gerado pela cidade – quase 2.000 toneladas diárias. O governo passado elegeu a meta de reaproveitar 11% dos resíduos urbanos em 20 anos. Nessa marcha, só em 150 anos todo o lixo produzido aqui será reciclado.
A verdade é que este é um problema que é sistematicamente negligenciado entre nós. Não importam os argumentos econômicos, ambientais, de saúde pública etc. a favor da reciclagem. A Alemanha, que recicla mais de 50% do seu lixo, oferece subsídios e incentivos.
No Brasil, ao contrário, o produto reciclado paga imposto. Talvez por isso, há menos investimentos nessa indústria. O consumidor, por sua vez, busca mais o preço dos produtos, mostrando-se menos atento à origem dos materiais e modos de produção do que consome.
No entanto, o descarte de rejeitos urbanos constitui um dos maiores problemas das cidades. Para reverter sua escalada, será necessário o engajamento da sociedade num grande esforço de educação ambiental, através da mudança dos hábitos e mentalidades das pessoas.
Enquanto isso não ocorrer, os custos com a limpeza urbana vão crescer, quando deveriam baixar e até produzir riqueza.