A tragédia de Mariana poderia ter sido evitada se o Ibama tivesse ordenado, quatro meses antes, o embargo da barragem de Fundão porque a mineradora havia desmatado mais do que o permitido em uma área.
O cumprimento da ordem ficou agarrado na burocracia do órgão, e a mineradora pôde continuar a sobrecarregar a barragem de rejeitos, a fim de compensar, com a superprodução, a queda nos preços internacionais do minério.
Ante a inércia e a conivência do Estado, venceu a lógica empresarial: a barragem poderia não se romper. No ano passado, a mineradora teve o maior lucro líquido em relação ao recolhimento de impostos no Estado.
Governos e empresários acreditam que o ambientalismo é contra a economia. Na verdade, o passivo ambiental de hoje, provocado por um desastre como o de Mariana, representa o passivo fiscal de amanhã.
Diante de um desastre, a infraestrutura tem de ser reparada, e recuperados os serviços essenciais, aumentando o déficit público. As empresas se eximem da responsabilidade, e os governos socializam os prejuízos.
Entre 2002 e 2012, os desastres ambientais custaram R$ 278 bilhões ao país, de acordo com um relatório do Grupo de Economia do Meio Ambiente da UFRJ. Cerca de 25% dos brasileiros foram afetados por catástrofes.
O número de desastres triplicou em 20 anos, passando de 3.556 entre 1991 e 2001 para 10.066 entre 2002 e 2012. Para reagir às catástrofes naturais, o país precisaria de R$ 25 bilhões por ano – o mesmo valor do Bolsa Família.
Por isso é tão importante prevenir esses desastres. Empresas e governos, geralmente, estão despreparados para enfrentá-los. Durante vários dias nada foi feito para conter a lama que saiu de Mariana até ela chegar ao mar.
A tragédia veio mostrar que os efeitos de um desastre ambiental não afetam apenas os que lhe estão mais próximos, mas atingem uma vasta região, durante muitas décadas, para algumas pessoas e animais pela eternidade.
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