Na última semana, enquanto boa parte do Brasil curtia o Carnaval, duas notícias abalaram o mercado do livro. A primeira delas, dada em primeira mão por Maurício Meireles, colunista de literatura na “Folha de S.Paulo”, garantia que a livraria Cultura seria comprada pela Saraiva. A segunda, igualmente temerária, veio da direção da Fnac no Brasil (que posteriormente negou tudo), falando da iminente saída do grupo do país, alegando ser muito difícil fazer negócios por aqui.
Em uma nação como a nossa, em que o número de livrarias é reduzido, em parte por causa da dominação das grandes redes, é assustador ouvir notícias de que elas, logo elas, que vêm esvaziando os pequenos negócios, também têm dificuldades em se manter. A reação de autores, editores, livreiros e interessados no mercado editorial foi adequada à seriedade das notícias. Afinal, com o preço médio dos livros nas alturas e o generalizado descaso com a falta de leitores no país, não faltam aqueles com algumas (possivelmente muitas) palavras nada gentis entaladas. E a tal da culpa pelo atual estado do negócio de vender livros foi lançada para todos os lados, sem preconceitos. Pelo que li nas redes sociais, sobrou até mesmo para o leitor, aquele traidor, que se recusa a reservar a maior parte de seus rendimentos para a compra de obras – ou até mesmo para a doação direta aos protagonistas do mercado do livro, que tanto precisam.
Perante tamanho pandemônio, começaram a surgir as primeiras “sugestões concretas” para reverter a atual crise: transformar as livrarias em locais livres, nos quais interesses comerciais não têm voz, e reacender o debate da Lei do Preço Fixo, que pretende proibir descontos maiores do que 10% são duas sugestões recorrentes.
A primeira ideia é adorável. Amaria ver grandes livrarias com curadorias próprias, com cartões escritos à mão por funcionários com recomendações de leitura à frente dos livros nas estantes, como ocorrem em boas livrarias fora do país. Apesar disso, é ingênuo pensar que interesses comerciais podem ser deixados de lado. Infelizmente, vivemos num mundo capitalista, e é o lucro que determina quais negócios sobrevivem e quais fecham as portas. Certamente é o lucro que está por trás das decisões tomadas pelas direções da Cultura, da Saraiva e da Fnac. Não obstante, seria interessante ver um modelo híbrido aplicado a uma grande livraria. Uma possível resposta seria dar mais liberdade ao gerente na hora da compra dos livros de sua loja, afinal é ele quem entende o perfil dos leitores que frequentam o local.
Já sobre a Lei do Preço Fixo... A grande solução que conseguiu unir editores e livreiros. Seria uma excelente ideia se não alienasse os leitores, tão dependentes desses descontos dados pelas grandes redes. Se me for permitida uma sugestão, digo que está na hora de o mercado do livro entrar em contato com seu público. Vamos fazer pesquisas e perguntar ao leitor como ele encontra suas leituras. A partir daí, com informações sólidas sobre como o cliente (sim, cliente) da livraria acha os produtos (sim, produtos) que compra, será possível descobrir caminhos concretos. Talvez seja a tal Lei do Preço Fixo, tudo é possível. Mas acredito que estará na melhora do serviço ao leitor.
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