Na semana passada, eu publiquei neste espaço um texto no qual critiquei as pessoas e instituições que incentivam e aprovam a censura de exposições de arte, a exemplo da “Queermuseu”, caso ocorrido em Porto Alegre no começo do mês. Alguns leitores sentiram-se compelidos a traçar comentários e oferecer seu apoio. Eu agradeço todas as palavras gentis – vocês me fizeram sentir que há esperança de que nossa realidade, por mais que esteja sofrida, seja momentânea.
Entre os e-mails e comentários que recebi, porém, houve um que me chamou a atenção. Um leitor escreveu para apontar o que ele considerou ser um erro em meu texto. Para ele, eu falhei ao escrever que a exposição foi censurada pelo Santander de Porto Alegre. Ele entende que a censura foi feita por um grupo de ativismo político e não pelo banco. Após ler a mensagem, reli meu texto e me vi voltando a sua crítica a cada par de horas. Eu acho bom refletir e me perguntar, de peito aberto, se houve erro – tenho sempre a chance de aprender algo novo. E, como achei a questão interessante, decidir trazê-la para este espaço.
Melhor já declarar meu posicionamento: não concordo que tenha cometido o erro pelo qual fui acusada. O motivo pelo qual não concordo, porém, é o ponto central de uma discussão que vale a pena ter.
Para o leitor, que é partidário do movimento ativista, é preciso citar o nome dos responsáveis pela ação, na opinião dele louvável, de fechar as portas de uma exposição de arte com obras que inspiram reflexões. Ele entende que o responsável pela censura, quem deve “merecer” o nome “censor”, é a organização que pressionou o Santander de Porto Alegre a fechar as portas.
É aqui, na definição de “responsável”, que nossas opiniões diferem.
Eu coloco a responsabilidade aos pés de quem tem o poder. Por mais que uma pessoa ou um grupo de pessoas tenha pressionado o banco a fechar as portas do “Queermuseu”, somente o Santander de Porto Alegre tinha o poder de censurar a exposição de arte que ocorria num local privado que lhe pertence. E, assim, responsabilizo a instituição financeira, e não um grupo ativista, pela censura.
Aliás, recomendo esse exercício de buscar entender quem é o real responsável em cada situação. Raramente é o alvo mais óbvio. E, na maioria das vezes, revela relações de poder que esclarecem cenários, como o atual da política brasileira, que deixou há tempos o campo do absurdo para entrar no realismo desesperador. O exercício é bom, também, para evitar-se dar poder a quem não o tem. Afinal, quando responsabilizamos quem pressiona, aumentamos o poder da próxima pressão. Melhor focar em quem cede – quem sabe da próxima vez resistem?
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