Somente 56% dos brasileiros haviam aberto um livro no fim de 2015, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Honestamente, eu me surpreendo que seja tudo isso mesmo. Pelos comentários de pessoas próximas sobre séries que veem, filmes aos quais assistem, shows a que fazem questão de ir e até as menos citadas (mas ainda assim presentes) peças e exposições, ler um livro é uma espécie de objetivo mítico. “Claro que todo mundo quer ler, mas quem consegue, não é mesmo?”. E isso é entre aqueles que gostam e consomem produtos culturais.
Quando isso me vem à mente, me inclino a pensar que minha percepção do hábito de leitura alheio é distorcida, porque o leitor tende a ser mais quieto. Ao acompanhar uma série (principalmente as que passam na TV), a pessoa posta, incansavelmente, sobre cada desenvolvimento da narrativa. Os mais apressadinhos são impedidos de chegar logo ao fim, e os atrasados são obrigados a se manterem atualizados. Assim, a série acaba virando obrigatória para quem quer ter assunto na firma. O leitor, por outro lado, traça um caminho individual, vai escolhendo suas leituras das formas mais tortas possíveis. Não há como fazer com que todos leiam a mesma coisa ao mesmo tempo. Por isso, livros não renderiam tanto papo.
Mas aí chega essa pesquisa, divulgada na última semana pelo Instituto Pró-Livro, e deixa claro que estou equivocada. Ninguém comenta os livros lidos porque ninguém lê mesmo. E sabe os 56% que abrem um livro? Não precisam nem ao menos tê-lo lido até o fim para entrar nessa contagem. Melhor aceitar os fatos.
Ainda assim, fica a dúvida: por que o brasileiro não lê? Aparentemente, o motivo de 43% dos brasileiros é falta de tempo. Para 9%, o problema é falta de paciência para ler, e outros 9% preferem outras atividades. Honestamente, tendo a acreditar mais em quem diz preferir fazer outra coisa ou não ter paciência. Esse papo de “não tenho tempo” é comparável ao “vamos encontrar” proferido entre amigos.
Digamos, então, que quem não lê simplesmente não gosta de ler. Considerando que o livro mais citado entre os últimos lidos e os mais marcantes é a Bíblia, faz todo sentido não gostar de ler. Nada contra a Bíblia como objeto religioso; ela só não é um incentivo à leitura. Entre os autores preferidos, aqueles presentes nas listas de mais vendidos passam longe: Monteiro Lobato e Machado de Assis ocupam os primeiros lugares. Certamente obras lidas no colégio. De fato, se minhas opções de leitura se limitassem a abrir um guia religioso ou retomar a lista dada pela professora da oitava série, também não iria gostar muito de ler.
Enfim, a pesquisa diz também que o índice de leitura cresceu no país. Foram 6% nos últimos quatro anos. Fico feliz, mas não comemoro. Enquanto as obras lidas forem limitadas como indica o estudo, não vejo muito futuro para a leitura no Brasil.
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