Não sou especialista em educação, mas ouso tecer considerações sobre a reforma do ensino médio proposta pelo governo federal.
À exceção da necessidade de se ampliar a jornada curricular, tudo é motivo de discórdia. Não há consenso sobre a destinação de metade da carga horária do ensino médio ao conteúdo obrigatório. Tampouco há acordo sobre a flexibilização do currículo nas grandes áreas do conhecimento, ou seja, linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. Esta última costuma ser rechaçada pela esquerda com o argumento de que ela reforça a desigualdade social: aos ricos, a universidade, aos pobres, o trabalho manual. E outras asneiras do gênero.
Bolivarianos já se manifestam contra o ensino obrigatório do inglês, que, na cabeça deles, deve dar lugar ao ensino do espanhol. Décadas de debates não foram suficientes para gerar acordo sobre os eixos básicos de uma indispensável reforma educacional. É claro que a participação da sociedade nesse processo é mais do que desejável, mas parte das vozes que se levantam, exigindo a ampliação do debate, costuma mover-se menos por questões de ordem pedagógica que por convicções político-ideológicas.
E mais: a proposta acena, em tom demagógico, para o “protagonismo do aluno”. Ora, aos estudantes “organizados” não interessa o diálogo, e sim a contestação, como se viu nas manifestações contra a reforma educacional do governo paulista.
Isso não quer dizer que os jovens não tenham opiniões a serem levadas a sério. Eis algumas extraídas de entrevistas a jornais: “O ensino médio é cansativo e desinteressante, muita gente larga porque é chato”. Quanto à opção, na segunda metade do curso, por uma das grandes áreas de conhecimento, uma jovem afirma que “decidir que ênfase se quer dar aos estudos é difícil para estudantes ainda em formação”.
Outras opiniões suscitam a discussão do papel da sociologia no ensino médio: “Os professores são mais importantes que toda uma reforma. O aprendizado depende dos professores”. “Vão retirar disciplinas? Sou contra. São conteúdos como sociologia e filosofia que estimulam o pensamento crítico”.
Parece-me que, no caso da sociologia, tais requisitos nem sempre são preenchidos. É comum ouvir de alunos recém-chegados à universidade que a sociologia é muito subjetiva. A isso respondo que o estudante está confundindo subjetividade com abstração, coisas distintas. A teoria sociológica é tão ou mais abstrata que a física e, não raro, foge à plena compreensão, inclusive de alunos dos primeiros períodos do curso de ciências sociais. Desestimulados pela complexidade dos fundamentos teóricos da disciplina, os estudantes terminam por convencer o professor a ater-se a “temas concretos”, isto é, aos problemas brasileiros. É aí que entra a geleia de um marxismo pra lá de rasteiro, travestido de pensamento crítico.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.