As manifestações do último domingo foram menores em volume, mas bem mais claras nos objetivos, inclusive ao permitir a aproximação dos partidos de oposição e promover encontros com os principais líderes dessas siglas.
O PSDB, por exemplo, começa a ser movido pelo desejo dos principais coordenadores dos protestos e da maioria que vai às ruas, além de agir em consonância com os números das últimas pesquisas de opinião pública. Deveria ser o contrário. A oposição tinha que dar o tom, mas...
Se não tem como propor nada que supra essa sede por mudanças que a sociedade apresenta, sem necessariamente partir para a radicalização do pedido do impeachment, o melhor para a oposição é mesmo se apropriar do discurso da onda, sob risco de perder protagonismo.
Nessa linha, o senador Aécio Neves (PSDB), também pela primeira vez, cogita pedir o afastamento da presidente. Usa a “pedalada” que o governo federal deu para aumentar o seu caixa para manifestar o que já queria ou deveria, segundo seus eleitores, fazer há tempos.
Movido pelos mais conservadores, mais indignados ou pelos “inconformados” com os resultados das últimas eleições, o “Fora, Dilma!” deixou de ser disforme. O movimento está mais configurado, e todo o clima político começa a deixar registros menos difusos.
Diminuem-se os pedidos de intervenção militar e se apresentam, com um pouco mais de concentração, argumentos favoráveis à legalidade do impedimento.
Manifestantes, “coxinhas” ou não (neste caso, os carimbos pouco importam), estão conseguindo afunilar suas intenções, o que no início dos protestos não ocorria. Este movimento cresce enquanto pedidos de intervenção militar e reivindicações mais esdrúxulas vão ficando no caminho, restritos a grupos menores.
Há quem fale em “golpe branco” no pedido de impedimento e encontre até embasamento nisso, mas, desde que o “povo”, como um ser invisível e onisciente, tão majestosamente utilizado por partidos de esquerda, faça imperar esse sentimento, ele passa a ser mais do que legítimo como instrumento democrático.
A prisão de João Vacari Neto, as notícias acerca de informações manipuladas sobre as contas do governo, o esvaziamento na posse de Eduardo Alves no Ministério do Turismo, além dos sinais de insatisfação de Calheiros e Eduardo Cunha, as intermináveis notícias da Lava jato, que não param de atingir o PT e o governo, já são o bastante para estabelecer o ambiente político propício ao que intenta os mais impacientes.
Já a inflação, a crise hídrica, a estagnação da economia e a fragilidade das relações sociais reinante entre brasileiros, sem contar a precariedade do sistema de saúde e de uma segurança pública mais do que degradante, a situação atual da presidente é altamente perigosa para ela mesma, ainda mais quando o PT apresenta também certa fragilidade e incapacidade de reação.
Dilma, na berlinda, deixa o processo de impeachment engatilhado, mesmo que isso possa elevar um substituto que não passe nem perto do pensamento de quem deseja a imediata saída da presidente.
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