No meio ao desprestígio generalizado do mundo político que as manifestações de junho tão fortemente sinalizaram, o projeto “Eleitor do Futuro”, do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, lança sementes de esperança. O eleitor de hoje se sente desiludido, ludibriado e enganado por jogadas políticas sorrateiras. Escolhe alguém com um programa e ei-lo depois a vender-se a interesses opostos.
O TRE-MG aposta na infância e na juventude. Por isso, está a organizar encontros com alunos das escolas públicas e particulares para debater com eles temas fundamentais da vida política: cidadania, partidos políticos, eleições e voto no processo democrático.
Além da conscientização do significado do voto, incute-lhes a necessidade imprescindível para a democracia da participação popular social e política em todos os níveis. Participar vai muito além de votar. A redução democrática ao simples ato de votar tem gerado enfermidades graves nos atuais regimes políticos dos países ocidentais.
O projeto “Eleitor do Futuro” pretende aprimorar e ampliar o projeto “Justiça Eleitoral nas Escolas” que a Escola Judiciária Eleitoral executava até o ano passado. Planeja estratégia para que essa Justiça especializada se aproxime das crianças e dos adolescentes dos ensinos fundamental e médio e de outras instituições de educação complementar para formá-los na participação cidadã.
No fundo, estão em jogo o conceito e a prática concreta da cidadania. Que significa preparar a geração jovem para exercer amanhã o direito e o dever de cidadão? O TRE-MG obriga-se então a repensar, em profundidade, o sistema eleitoral do país para que ele no conjunto forme o cidadão de amanhã.
Breve reflexão sobre a origem do próprio termo cidadania já nos aponta algumas pistas. A etimologia do termo carrega rica experiência que, interpretada em termos de hoje, sinaliza por onde andar. Na raiz da palavra cidadania se esconde a ideia de cidade – civitas – para dizer-nos que o ser humano acordou para ela quando se urbanizou. E por quê? Antes se vivia no mundo rural. Nele, a consciência das pessoas se via bloqueada pela própria matriz da natureza e pelas relações sociais dominantes.
Desde criança, o olhar do homem do campo se defrontava com a regularidade intocável do ritmo da natureza e com a força opressora dos senhores do campo. O que se pode fazer, quer diante do inexorável fluir dos astros, quer dos caprichos dos dominadores? Os verbos soavam: submeter-se, adaptar-se, acomodar-se e esperar por dias melhores. A iniciativa humana se reduzia a pouco.
No mundo urbano, pelo contrário, tudo parece ser criado por nós. Então, se nos despertam possibilidades e obrigações de dispor de tais empreendimentos em vista do bem próprio e dos outros. No entrecruzar dos interesses pessoais e sociais nasce a cidadania. E então cabe mostrar às crianças e aos adolescentes o que lhes toca fazer para criar mundo de convivência humana, fraterna e justa. E a política existe principalmente para favorecê-la e só tem sentido se a realizar. Nesse horizonte se entende o dever e o direito de votar.
O eleitor de hoje e o eleitor do futuro
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