O sociólogo Jessé Souza é um sujeito controverso, reconhecido dentro e fora da academia por ser assim. Ele assumiu essa marca como estilo em algum ponto de sua carreira. Vestiu a carapuça e toca em feridas sempre que escreve e fala. Longe de buscar complacências, parece preferir se arriscar entre admiradores e detratores. Aliás, essa é uma característica de outros “pensadores” brasileiros contemporâneos, que talvez vejam no flerte com a polêmica uma vara para saltar os muros da universidade. Que bom!
Jessé, que Dilma nomeou no começo do ano para presidir o Ipea, deu uma entrevista recente ao portal brasileiro de “El País”, em que apresentou ideias que estão em seu novo livro: “A Tolice da Inteligência Brasileira”.
Nele, diz haver um aparato institucional armado para manipular a classe média em favor da manutenção do status quo social, falando aos sentimentos dela. E, por fim, alerta para a modalidade pós-moderna de golpe articulado pelos órgãos de controle e pelo Judiciário para benefício do capital, os tais 20% que mandam no país. Salta aos olhos a manchete: “No Brasil, o Estado é demonizado, e o mercado é o dono de todas as virtudes”.
Não são controversas as afirmações? Pode haver também “conspiracionismo”, exagero, vitimização partidária e até atrevimento intelectual. Mas é fato a força do conto de fadas (pseudo)liberal à brasileira que rende louros ao mercado e joga o poder público na lama. Esse ideário frágil, maniqueísta, desonesto intelectualmente invade nossas casas, mesmo, diariamente, em doses homeopáticas.
Mas convém contrapor a essa lógica plena de autointeresse algumas questões. Quem corrompe o político corrupto? Quem compra a fidelidade de parlamentares, prefeitos e governadores com doações eleitorais vultosas? Quem paga propina para caixa 2 de campanha em troca de contratos direcionados de obras públicas? Quem molha a mão do fiscal da Receita para sonegar imposto? Quem manda matar o líder sem-teto que militava pela regularização de um assentamento? Quem compra emendas e medidas provisórias em favor dos negócios? Quem fere um rio de morte por negligência e esconde o dinheiro com que se deveria indenizar as vítimas? Quem estende a alfafa em que pastam quase todos os partidos?
Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? O corrupto ou o corruptor? Difícil. Seria preciso investigar a distribuição de capitanias e sesmarias pela coroa de Portugal no século XVI. O “coitadismo” de que se reveste o discurso dos advogados de empreiteiros presos, de que a corrupção era a única via para a sobrevivência das empresas, é digno de dó e tão fantasiosamente ingênuo quanto a tese hegemônica do Estado mínimo no Brasil.
Zelotes, Lava Jato, mensalão, lama de Bento Rodrigues estão aí para apresentar a podridão umbilical que une poder público e mercado. Ambas as instâncias têm suas virtudes, mas nessas histórias só tem lobos maus. Para sermos menos tolos, façamos sempre aqui como no “Watergate”: “Follow the money”.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.