No último dia 31 de agosto, data que marcou o fechamento da janela de transferências do futebol europeu em diversos países, foi notória e perceptível a loucura que tomou conta das redes sociais na expectativa por reforços. Movimentações para lá, transferências para cá, empréstimos acolá, frustrações para uns, felicidade para outros. O futebol, como o conhecemos uma vez, nunca mais será o mesmo após tudo o que ocorreu nessa última abertura do mercado europeu, com a tendência dos clubes gastarem cada vez mais e transformar o tal fair play financeiro da Uefa em “papo furado”.
Existem várias maneiras de driblar as imposições estabelecidas para conter os gastos dos times e mantê-los dentro de um teto de responsabilidade fiscal aceitável. O PSG deu uma aula nesse fundamento, contratando a jovem estrela francesa Mbappé por empréstimo e prometendo o pagamento de 180 milhões de euros ao Monaco ao fim da temporada. Deixo claro: essa prática não é proibida por lei, mas é a clara prova de que há brechas.
O time de Paris, que já é o dono do recorde de maior transferência da história do futebol com os 222 milhões de euros por Neymar, agora é responsável também pela segunda maior negociação de todos os tempos. Quase R$ 1,5 bilhão em dois reforços, 77% dos seus recursos em contratações. Um dia depois do acerto com Mbappé, a Uefa anunciou que investigaria o PSG e suas transferências astronômicas.
Resta saber se o levantamento da entidade acarretará punição ou apenas advertência, uma vez que os mecanismos de investigação são extremamente subjetivos e inconclusivos em alguns pontos, dentre eles o empréstimo com obrigação de compra, o que o PSG fez com Mbappé e já havia feito com o lateral-direito Serge Aurier, em 2014.
O certo é que alguma ação, inclusive um teto salarial, deverá ser tornada para evitar que apenas dez ou 12 times dentro da Europa sejam, graças ao seu poder financeiro, competitivos e transformem os campeonatos em torneios figurativos, como já vem acontecendo na França.
Há esperança?
A criação de supertimes desafia o futebol, mas sabemos que desde que uma bola rolou no planeta, o que determina o vencedor é o coletivo, e isso, nesse universo agora bilionário, é um consolo. Nessa mesma semana insana de negociações, o ex-técnico italiano Arrigo Sacchi, vice-campeão mundial com Itália em 1994, lembrou uma goleada por 5 a 0 que o seu Milan aplicou no Real Madrid em 1989, nas semifinais da então Copa dos Campeões. Aquele resultado surpreendente deu início à reformulação do futebol espanhol, que em 2010, na base do jogo coletivo, atingiu o ápice, sendo campeão do mundo.
“Naquele dia, eles (espanhóis) perceberam que o futebol não poderia ser interpretado individualmente, mas como uma equipe”, analisou Sacchi, em entrevista ao jornal italiano “Gazzetta dello Sport”. As individualidades elevam o futebol, mas o papel nem sempre reflete a sintonia em campo. E, pode acreditar, a bola pune.
Vários são exemplos no Brasil e na Europa. O desafio dos clubes, mesmo com os recursos infinitos, será transformar o poderio que possuem em um conjunto. E isso, para desespero dos magnatas, o dinheiro não pode comprar.