O gourmet brasileiro viaja para a Europa e se encanta com as maravilhas dos terroirs: um queijinho aqui, outros ali e acolá. Num burgo, uma receita, no seguinte, outra diversa. Mudam as condições naturais, como o solo, a umidade do ar, a presença do vento, o emprego de uma erva ou condimento peculiar, um jeito de fazer, uma fórmula familiar guardada a sete chaves e o resultado é a surpresa organoléptica, a festa dos sentidos. E assim sucede com pães, massas, fiambres, conservas, tortas, compotas, azeites, vinhos e tudo mais.
O turista encantado volta das férias curtas já sonhando com o próximo roteiro gastronômico e dificilmente se vale de suas impressões para refletir sobre os rumos da produção de alimentos no Brasil e em boa parte do Mundo. Salvo honrosas exceções, não se faz a ponte cognitiva e, sobretudo, afetiva entre o que foi experimentado lá fora e o que se vive aqui. As férias não cumprem o papel de educar o camarada, que retorna e resvala para a tacanhez habitual.
Boa parte do mundo gastronômico brasileiro faz dele um buchicho elitista. Mas aumentam aos poucos os comprometidos com uma leitura política sobre a alimentação. Algo indispensável principalmente às vésperas de eleição, em que muitos, a julgar pelas redes sociais, escolhem seu candidato baseados na fofoca, no escândalo e no preconceito.
Uma pena que os melhores programas e entrevistas aconteçam altas horas da noite e somente na tevê a cabo, prevalecendo nos telejornais e nas propagandas um bombardeio de informações para vender produtos alimentares industrializados e espalhar ideologicamente o discurso de que o agronegócio é a salvação da espécie humana.
E, assim, cria-se no imaginário coletivo a ideia de eficiência do agribusiness, com pouca gente percebendo que ela atende menos ao interesse da comunidade que ao do grande capital. Agronegócio, indústria de alimentos e indústria da saúde compõem um tripé poderoso. E o contraponto a ele depende de esforços cooperativistas e de subsídios governamentais aos pequenos negócios agropecuários. Graças a eles, a França é o que é – ainda – em matéria de gastronomia.
A economia de escala é inimiga do slow food, séria corrente de pensamento que une chefs, gourmets e produtores rurais mundo afora, numa contracultura que por vezes parece ter chegado ao Brasil como puro modismo acrítico.
Madrugada dessas, vi entrevista do ótimo Jorge Pontual com o ainda melhor Michael Pollan, jornalista norte-americano e escritor do livro “Cozinhar: Uma História Natural da Transformação”, que recomendo ao leitor. Para resumir, saí com a certeza de que para tomar menos remédio o negócio é comer o mínimo possível de alimentos industrializados. Encerro o artigo com a resposta de Michael à revista Casa e Comida:
“– Há semelhanças entre a cultura alimentar dos Estados Unidos e do Brasil. Como você avalia?
Michael Pollan – Ando curioso sobre o Brasil. Há muita preocupação com a monocultura de soja, que é, em sua maior parte, exportada para alimentar porcos na China, pelo que pesquisei. É um modelo falido. Nos EUA, plantamos soja e milho há décadas e já sentimos as consequências disso. Com o tempo, são necessários mais agentes químicos, mais fertilizantes, que levam, por fim, à poluição das águas. Creio que algo parecido deva acontecer no Brasil.
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