Num fim de semana, caminhando com meu marido, de tênis, camiseta e bastante empolgação, disse:
– Acho que vou voltar a treinar vôlei...
Ele, achando graça, respondeu:
– Tamanho pra isso você já tem.
É, nunca ninguém me levou a sério nessas questões.
Futebol e vôlei sempre foram meus esportes preferidos. Quando jovem, inventei de treinar vôlei. Morava na Pampulha e pegava dois ônibus para jogar no clube Olímpico, no alto da Serra.
Embora fosse um palito, com meus 39 kg de potência, no alto de meus três meios metros e pouco, nunca me passou pela cabeça que aquele esporte não era para mim. Faltavam-me força, tamanho, fôlego, entre outras coisas... Para bem dizer a verdade, só existia mesmo a vontade. E a vontade era tanta que eu mal percebia a cara de desânimo do técnico ao me ver jogar.
– Mais força, garota!!! Não puxa a reeeeede, menina! (E eu não só puxava, como passava debaixo dela, vivia do lado de lá). – Isso! Saca com vontade! – dizia ele, sem entender que vontade eu tinha, o que me faltava era força.
Enfim, foi um ano de treinamentos com direito a roxos, exaustões, joelhos esfolados e pulsos doloridos. Menor problema, eu adorava jogar e pronto. O pior é que, após tantos treinos, comecei “a me achar”, se é que me entendem.
Eu me achava tanto que, numa praia do Espírito Santo onde alugavam redes e bolas, corria sempre para ser a primeira. Com a posse da bola, saía em busca da equipe. Entre amigos e desconhecidos, logo, logo os times eram formados. Como “dona” da bola, tinha direito de ficar até o fim. E ficava. Na maior cara de pau.
Até que um dia, durante a formação das equipes, ele surgiu: um gigante oxigenado, cujas pernas eram maiores que eu, disposto a jogar. Lembro-me de que do time eu não conhecia praticamente ninguém. Além do gigante, que, vim a saber depois, tratava-se de um jogador da seleção carioca de vôlei, havia outros jogadores, altos, atléticos e esportistas. E no meio deles, eu.
Em pouquíssimo tempo, o gigante queria me matar. Matar mesmo, olha que isso não é uma força de expressão. Estava tão irado com a companheira de equipe que a turma adversária me convidou para mudar de lado, antes que as ameaças do outro se concretizassem.
– Porr... garota!!! Se tu não sabe jogar, cai fora, pô!!
E me olhava com tanto ódio que acabei aceitando rapidinho o convite do time adversário. Mudei de lado, para a infelicidade dos tão gentis e compreensivos jogadores. Pensa bem, estávamos ali de férias, para nos divertirmos, ficava um tempão na fila sob o sol infernal para conseguir uma bola, adorava jogar... E tinha mesmo que aguentar desaforos de um troglodita que parecia estar numa final da liga internacional??? Dane-se.
Mesmo estando do outro lado, o ódio sobre mim continuava. Sabe aquele famoso saque do Bernard, “jornada nas estrelas”, em que a bola ia pro espaço e voltava? Pois é, o cara pelo jeito inventou um “viagem ao centro da Terra”. Mirava em mim e BUM! Lá vinha bomba. De cima pra baixo, quase que eu visito o Japão. Enfim, me rendi. Por essas e outras, deixei as quadras. Claro, como jogadora, pois como torcedora continuo presente, gritando enlouquecidamente e torcendo cada vez mais pelo meu time Sada Cruzeiro vencer.
E foi o que fiz nesse último domingo. Às oito horas da manhã já estava pronta para ir ao Mineirinho assistir à final da Superliga masculina contra o Sesi-SP – quase uma seleção. Final é final, sinônimo de estresse, ansiedade e coração em pleno teste ergométrico. Nesse dia, para mim, seriam duas paradas difíceis: a do vôlei pela manhã e a do futebol à tarde, com o clássico Atlético e Cruzeiro. Ou seja, eu “sada-cruzeirense” de manhã e atleticana à tarde.
Enfim, vôlei é uma coisa, futebol é outra. Adoro ambos, e ambos me emocionam.
Deixo para a imprensa os comentários sobre a espetacular vitória e a brilhante temporada do Sada na conquista do tricampeonato. Sada Cruzeiro, um time que, em cinco anos, conquistou cinco títulos mineiros, sagrou-se três vezes campeão da Superliga, foi bicampeão sul-americano, campeão da Copa Brasil e campeão mundial (o primeiro conquistado por uma equipe brasileira de voleibol). Um time que investe e acredita no esporte, exercendo um papel fundamental na disciplina e formação de nossos jovens. Que mantém uma escolinha de vôlei em parceria com o Sesi-MG para mais de 400 crianças carentes e desenvolve projetos esportivos em várias cidades. Tanto investimento na base mostrou resultado. Neste ano sagrou-se campeão nacional também da Superliga B, com seus garotos de 17 a 20 anos.
Finalizo, parabenizando o competentíssimo técnico Marcelo Mendez, o meu marido, Vittorio, presidente e fundador do time, a comissão técnica, diretoria e torcedores, mas, principalmente, os atletas, que tenho o privilégio de acompanhar, ser amiga pessoal e grande admiradora. A eles, o nosso muito obrigado pela imensa alegria que nos proporcionaram, com responsabilidade, garra e comprometimento, sem nunca perder a humildade. Valeu, gente!!!
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