Numa sexta-feira, chegando do trabalho, louca para tomar banho, escuto um barulho no telhado. Na verdade um barulhão, como se fossem passos: apressados, pesados e contínuos. Gambás em dia de empolgação? Não, por mais obesos que estivessem, não fariam esse barulho. Gatos? Ratos? Também não; são pequenos para tamanha zoeira. Um chipanzé? Será que algum fugiu do zoológico e veio parar aqui, correndo enlouquecido no telhado de minha casa?
E fui pra fora tentar descobrir o que ocorria. A noite chegava, e o mistério do barulho só aumentando.
De repente, me dei conta do sumiço da cachorra, minha pit-lata gigante que não desgruda um minuto sequer.
– Não! Nenhuma chance da Vlora estar no telhado! – pensava, enquanto chamava-a pelo nome. Voltei-me para o alto e, de repente, a vi surgir ali, com seus passos longos e pesados.
– Hã???
Devo ter ficado paralisada por alguns segundos. Realmente não dava para acreditar na cena. O telhado, além de alto, não tem nenhum tipo de acesso, nenhuma escada, nada! Mas ela estava lá, me olhando apavorada e ameaçando pular.
– Calma, Vlora! Pelo amooor de Deus! Fique onde está! – gritava, tão apavorada feito ela, já pensando em ligar para o Corpo de Bombeiros.
Até que, num lapso de raciocínio lógico, refiz em minha cabeça o que poderia ter acontecido. Não sei se foi bem assim, mas também não conseguia imaginar outra coisa. A cachorra, com mania de correr atrás de tudo o que vê pela frente, provavelmente encontrou um gato em seu caminho. Este, fugindo assustado, foi parar no imóvel ao lado, onde uma escadinha de ferro em forma de caracol, há tempos sem uso, os levaria ao sótão. No meio da penumbra, de repente uma luz! No sótão, a saída para uma varandinha minúscula, pela qual, com um salto magnífico, seria possível alcançar o telhado de minha casa.
E lá fui eu, com uma lanterna na mão, tentando refazer o caminho supostamente percorrido por ambos. A escada enferrujada era outra encrenca. Com seus degraus pequenos, íngremes e perigosos, rangia a cada passo.
Não pensava em mais nada, a pressa em tirar minha cachorra do telhado era maior que meu medo. Cheguei finalmente à tal varanda, e, do outro lado, ela, aflitíssima, me olhava. Sem pensar duas vezes a chamei; “do mesmo jeito que pulou para ir, deve pular para voltar”, raciocinei. Ainda bem que ela também não parou para pensar, estava tão ansiosa para sair dali que “voou” de um lugar ao outro. Foram tantas lambidas e pulos que quase quem voou fui eu.
Na hora de descer a escada, outra luta. Puxei-a, chamei, implorei, pus a coleira, e nada! Petrificada, Vlora empacou no primeiro degrau. Só depois de um bom tempo, muita calma e psicologia canina consegui tirá-la de lá.
Não sei que rumo tomou o gato, o gambá, o macaco, o ET, ou seja lá o que for que fez minha cachorra subir no telhado. Antes que a façanha se repetisse, tranquei a porta do sótão e do anexo, onde uma escadinha em forma de caracol poderia abrir as portas para inusitadas aventuras.
Mais tarde, meu marido, ao chegar do trabalho, me perguntou como de costume:
– E aí? Alguma novidade?
E eu, como se fosse a coisa mais natural do mundo:
– A Vlora subiu no telhado!
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