Acabei de partir uma lagartixa ao meio. Fechei a porta do quarto e “bum”, lá se foi um rabo pulando sozinho no tapete. Santo Deus! O que é isto? Abro a porta devagarzinho para conferir e encontro a bichinha esmagada. Droga!!! Nunca matei lagartixas na vida.
Outra noite encontrei meu marido olhando com carinho para uma caixinha de fósforo. Curiosa, me aproximo, e ele, sem dizer nada, me mostrou uma coisinha minúscula, quase do tamanho de uma unha, com perninhas e rabinho. AMEI!!! A lagartixinha era tão micro que devia ser recém-nascida. Segundo o Vittorio, mesmo daquele tamanho, já havia despertado o interesse dos cachorros da casa, por isso a proteção. Resolvemos colocá-la no jardim, longe dos olhares da Pretinha, nossa cachorra enlouquecida, que tem mania de correr atrás de tudo o que mexe, seja passarinho, borboleta ou uma simples lagartixa.
No verão, quando as mangas caem no quintal, as abelhas fazem a festa. E a Pretinha, naturalmente, faz questão de acabar com a farra. Resultado: abelhas enfurecidas e Pretinha de focinho inchado. Mas ela não desiste!
Lá em casa, com exceção de pernilongos e baratas, todos os bichos são respeitados no seu direito de viver. Se encontro uma formiga na pia, não abro a torneira. Primeiro a tiro dali, para, depois, escovar os dentes. E assim é com toda a família. Ensinamos nossas filhas, desde pequenas, a respeitarem os animais. Em nossa mesa, normalmente, só entra carne de soja e até mesmo as aranhas, quando cismam de morar dentro de casa, são retiradas cuidadosamente para o jardim. Baratas são um problema. Às vezes, topo com uma e, sem coragem de abatê-la, saio correndo atrás de alguém para fazer o “serviço sujo”.
Só não tenho pena de pernilongos. Esses me irritam profundamente. Ou melhor, essas, pois são as “pernilongas” que transformam nossas noites num inferno. Outro dia, na mão de um camelô, comprei um exterminador de pernilongos. O negócio se parece com uma raquete de tênis, com o diferencial que dá choque. Só que ver "pernilongas" sendo esturricadas, não me agrada e assim, evito usar a tal raquete.
Outra noite foi a mariposa. Enoooorme, marrom e cabeluda. Dessas que costumam grudar-se à cortina e passar dias imóveis, alimentando-se Deus sabe do quê. Só que a lá de casa, em vez de ficar quieta no canto, não. Resolveu, às três da madrugada, se debater nas paredes do meu quarto. A cada trombada, um barulho diferente. Um inferno! Levantei-me sonolenta e abri a janela para que saísse. E ela não saiu. Em compensação, a 200 km/h, entrou um morcego tirando rasante em minha cabeça. Eu mereço!!! Voltei pra cama, puxei a coberta e, cansada, dormi com a janela aberta. Afinal, uma hora esses dois tinham que sair!!!
Pior foi o que passei com uma minhoca. Não gosto de minhocas, assim como de bichos de goiaba. E foi justamente uma gigante e gelada que foi parar na minha barriga. Explico: estava com amigos no meio da rua, há muitos e muitos Carnavais, quando um deles apareceu com a dita num pedaço de pau.
– Ai, Luís!!! Devolve o bicho pra terra!
– Por quê, Laurinha? Você tem nojo de minhoca?
– Claro; quem não tem? – respondi.
Na época eu usava um collant, uma espécie de maiô para o dia a dia. Para tirá-lo, era necessário primeiramente retirar a calça. Pois bem, vestida de jeans e collant, encontro-me no meio da rua com os amigos e a minhoca. O collant era um pouco decotado, e, aproveitando-se disso, adivinhem onde jogaram o bicho??? Nunca gritei tanto. Ali, no meio da rua, com aquela coisa gelada que foi parar no meu umbigo.
Corri para a primeira casa que encontrei. “Pelo amoooor de Deus, me deixa ir ao banheiro!”, gritei para a pessoa que, assustada, me abriu a porta. Entrei que nem um furacão para tirar a roupa. Não sei se ela acreditou na história da minhoca. Só sei que, ao encontrar-me com minha turma, tinha que aguentar as piadinhas de sempre.
– EEÊ, “Lauroca”, cadê a minhoca??? – Até musiquinha fizeram na época: a “Melô da Minhoca que Sumiu”.
Durante anos, escutei essas bobagens.
Entre os amigos queridos, não dá para ter vergonha. O jeito é rir e cantar junto. E foi assim que a “Melô da Minhoca” entrou na minha história.