Para quem está atrás de um bom programa, anote aí na agenda: Bienal do Livro, que iniciou no dia 14 e irá até domingo, dia 23. Com a participação de vários autores, debates, apresentações teatrais, contação de histórias, escritores consagrados, um enorme acervo de livros, programações destinadas aos públicos infantil, jovem e adulto, enfim, conta com atrações para todos os gostos.
A primeira vez em que fui a uma bienal foi com uma prima em São Paulo. Fiquei tão entusiasmada que não queria mais sair – para o desespero da prima e de minha tia, que me aguardava para o jantar. De cafezinho em cafezinho, nosso alimento ali era literatura, que eu engolia com os olhos, com a alma, com a mente e o coração. Deus do céu! Isso aqui é o paraíso, pensava encantada, até a prima, exausta, me retirar à força.
Desde menina cultivo a mania de namorar livros nas estantes. Estudante, gostava de sentar-me no chão das livrarias e, sem o menor constrangimento, pegar nas prateleiras livro por livro, quase que aleatoriamente, lendo as orelhas, os prefácios, deliciando-me com a variedade de capas e títulos.
Lembro-me de um sebo no centro da cidade, cujo proprietário se chamava Amadeu. Fui tantas vezes ao local que o simpático senhor acabou convidando-me para trabalhar com ele. Cursando duas faculdades ao mesmo tempo, não seria possível, mas adoraria! Também gostava de frequentar as Edições de Ouro, na avenida Afonso Pena, onde tive a grata surpresa de descobrir Carlos Heitor Conny, Júlio Verne e tantos outros autores.
Livros ocupam nossa cabeça, nosso tempo e imaginação. Nada nos leva mais à reflexão do que eles. Estão ali abertos, disponíveis, prontos para nos dar aquela “cutucada”. Oferecendo-nos palavras que podem ser lidas e relidas quantas vezes necessário for, instigando o raciocínio, trabalhando os sentidos, a inteligência, a emoção. Através deles rodamos o mundo, conhecemos pessoas das mais diferentes vocações e culturas, rimos, choramos, nos emocionamos. Aprendemos muito. Aprendemos sempre.
Quando menina, por influência de minha mãe, adorava recitar poesias. De tanto ouvi-las e recitá-las em voz alta, acabei decorando muitos de seus versos.
Astros! Noite! Tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!...
... Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes?
Choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; pois choraste, meu filho não és!
“Navio Negreiro”, de Castro Alves, e “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias: poemas que ficaram e que minha mãe, ainda hoje, na hora do almoço, cisma de recitá-los a 200 decibéis de altura, para o divertimento dos netos e doces lembranças dos filhos.
E a mente continua a viajar no tempo, quando aprendi o bê-á-bá: Lili. Olhem para mim. Eu me chamo Lili. Eu comi muito doce, vocês gostam de doce? Eu gosto tanto de doce! Deus! Será que as crianças de hoje ainda aprendem essas coisas? Com frases tão simples e repetitivas? Seja como for, depois da Lili, nunca mais parei. Romances, ficção, não ficção, biografias, poesias, matérias jornalísticas... Como diz um amigo, nem bulas de remédio escapolem...
A leitura é um vício saudável do qual não consigo me livrar. Ainda bem.
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