Conhecemos as formas clássicas de guerra, primeiro entre exércitos e, após Hitler (com sua “totaler krieg”, a guerra total), de povos contra povos. Inventaram-se bombas nucleares tão potentes que podem destruir toda a vida. Diz-se que eram armas de dissuasão. Não importa. Quem tem a iniciativa ganha a guerra, que duraria poucos minutos. A questão é que elas são tão letais que podem matar a todos, inclusive aqueles primeiros que as lançaram. Viraram armas de espantalho. Mas, cuidado, a segurança nunca é total e não é impossível que algumas delas explodam sob a ação de hackers, pondo em risco grande parte da humanidade.
Ultimamente, inventou-se outra forma de guerra, de que a maioria das pessoas nem sequer se dá conta: a guerra cibernética, chamada também de “guerra informática”, “guerra digital” e “ciberguerra”.
Ela tem um pano de fundo que merece ser considerado: há um excesso de acumulação de capital, a ponto de as grandes corporações não saberem onde aplicá-lo. A agência de políticas de desenvolvimento Oxfam, presente em 94 países e assessorada por cientistas do MIT, forneceu, no ano de 2017, os seguintes dados: 1% da humanidade controla mais da metade da riqueza do mundo; e os 20% mais ricos possuem 94,5% dessa riqueza, enquanto 80% devem se conformar com 5,5%. Eis uma profunda desigualdade que, traduzida eticamente, significa uma perversa injustiça.
Essa concentração demasiada não vê sentido em aplicações produtivas porque o mercado, empobrecido, não tem condições de absorver seus produtos. Ou continua na ciranda especulativa, agravando o problema, ou encontra outras saídas rentáveis. Vários analistas, como William Robinson, da Universidade da Califórnia, publicaram brilhante estudo sobre o tema. Também Nouriel Rubini, que previu o “debacle” de 2007-2008, entre outros. Eles apresentam duas saídas para o capital ultraconcentrado: investir na militarização, sob o comando do Estado, com a produção de novas armas nucleares, ou em guerras locais, contra as drogas, na construção de muros fronteiriços e na invenção de novos aparatos policiais e militares.
Ou, então, fazer grandes investimentos em tecnologia, robotização, automação e digitalização, cobrindo, se possível, todos os aspectos da vida. Se em 1980 o investimento era de US$ 65 bilhões, agora passou para US$ 654 bilhões. Nesse investimento estão previstos os serviços de controle das populações, um verdadeiro Estado policial e as guerras cibernéticas.
Detalhando a análise: na guerra cibernética, não se usam armas físicas, mas o campo cibernético, com a utilização de vírus e hackers sofisticados, que entram nas redes digitais do inimigo para anular e eventualmente danificar os sistemas informáticos. Os principais objetivos são geralmente os bancos, os sistemas financeiros e militares e todo o sistema de comunicação. Os combatentes dessa guerra são especialistas em informática e telecomunicações.
O risco maior da guerra cibernética é que pode ser conduzida por grupos terroristas, como o Estado Islâmico, ou por outro país, paralisando toda a infraestrutura, como aeroportos, transportes, comunicações, serviços de água e luz, e mesmo romper os segredos de aparatos de segurança com armas letais, fazendo-as disparar ou inutilizando-as. E tudo isso a partir de centenas de computadores que funcionam em diferentes partes do planeta, impossibilitando identificar seu lugar de partida e assim enfrentá-lo.
Estamos face a riscos inomináveis, fruto da razão enlouquecida. Só uma humanidade que ama a vida e se une para preservá-la nos poderá salvar.
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As guerras cibernéticas e as novas formas de conflito entre as nações
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