Há pouco menos de um mês, o Congresso brasileiro mostrou mais uma vez que a sua prioridade é defender os interesses de seus patrocinadores, e não os do povo. Com uma maioria de votos, os legisladores aprovaram o PL 4.148/2008, do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que desobriga fabricantes de alimentos a avisar o consumidor sobre a presença de organismos transgênicos na composição final do produto. Atualmente, produtos com conteúdo maior que 1% de elementos transgênicos têm que ser rotulados com a letra T.
Essa manobra, que atende os interesses do agronegócio, deixa bem claro para quem os congressistas trabalham. Vinte e Oito países obrigam esse tipo de rotulação, incluindo toda a União Europeia, Japão, Austrália, Rússia e China. Agora o Brasil se une aos Estados Unidos, onde o lobby do transgênico é forte, na liberação total desse experimento com o meio ambiente e a saúde humana.
O argumento pela retirada do rótulo é lúdico em sua hipocrisia. O lobby transgênico diz que sua presença inibe o consumo. Mas, se eles afirmam que o transgênico é bom, não seria então desejável manter o rótulo, assim como os produtores de orgânicos orgulhosamente estampam seus produtos com o selo orgânico? Minha esperança é que produtores que não usam transgênicos comuniquem isso de forma clara ao consumidor como contrapartida para essa perda de um direito básico.
Essa manobra viola o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, que aponta que é direito básico do consumidor saber “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
Como no caso dos agrotóxicos, as agência reguladores deixam as corporações fazerem a festa no Brasil. Aprovam químicos e transgênicos proibidos em outros países e colocam em risco a saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente.
Os defensores dos transgênicos acusam seus críticos de serem anticiência e tecem narrativas emotivas dizendo que os transgênicos são a única chance de alimentar um mundo com 7 bilhões de pessoas. O que eles convenientemente omitem são os resultados de pesquisas independentes que associam colheitas de transgênicos com índices de câncer mais altos, problemas neurológicos e alterações hormonais. Fora isso, existe a questão de patenteamento de sementes de alimentos, contaminação de lavouras não transgênicas e de ecossistemas. Trata-se de um experimento cujas consequências ninguém conhece,
Além de todos esses problemas, alguns cientistas acreditam que o colapso de colônias de abelhas também tem ligação com lavouras transgênicas. A manipulação genética da planta leva a uma modificação genética do pólen da flor. Quando o pólen da flor se torna geneticamente modificado ou estéril, as abelhas podem ficar subnutridas e morrer de doenças pela falta de nutrientes e pela interrupção de sua capacidade digestiva do que elas se alimentam durante o verão e durante o processo de hibernação invernal.
Mas o lobby é tão forte que recentemente a União Europeia aprovou, apesar de toda a antipatia popular por transgênicos naquele continente, 19 novos produtos desse tipo, que incluem ração animal, comida para humanos e flores de corte.
Ambientalistas europeus alertam que a União Europeia está se afastando dos cidadãos para defender interesses de corporações. Isso demonstra que a pressão dessas empresas é mundial. Cabe ao consumidor e cidadão lutar contra o domínio dessas corporações globais que querem monopolizar a agricultura mundial com suas sementes e animais geneticamente modificados e patenteados. A nossa segurança alimentar, o bem-estar dos animais e dos mecanismos naturais do planeta dependem de nossa resistência agora.
Lobo Pasolini é jornalista, blogueiro e videomaker. Escreve sobre energia renovável e questões verdes para www.energyrefuge.com e www.energiapositiva.info
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.