Será que 2015 é o ano em que o Brasil finalmente vai ficar sério sobre os graves desafios ambientais que o assombram nesse começo de ano como um pesadelo apocalíptico? Estamos colhendo os frutos de décadas, talvez séculos, de devastação ambiental e ocupação caótica do território brasileiro. A crise hídrica que enfrentamos é um sinal dos tempos difíceis que já chegaram e o fim de uma ilusão que o brasileiro tem sobre o país: que vivemos em uma terra de abundância inesgotável.
O Brasil foi descoberto em uma época quando a Europa ainda acreditava no mito do paraíso terreno. Quando eles chegaram aqui, a natureza farta de recursos naturais e pessoas vivendo em harmonia com o meio ambiente provavelmente se encaixou com a ideia. Mas junto com esse mito veio a ganância e a falta de respeito com a natureza, que na tradição cristã era vista como um presente de deus ao homem para que ele fizesse dela o que bem entendesse. Ele poderia, literalmente, a estuprar. E assim o fez, e continua fazendo.
Agora chegamos ao fundo do poço. O gigante foi desfigurado pela ganância dos exploradores, auxiliados pela corrupção política e um povo complacente e desinteressado em seu próprio destino. O país está dilapidado e rumando ao colapso, inclusive a Amazônia, deixada nas mãos de seus inimigos pelo governo federal. Sob a bandeira de um desenvolvimentismo retrógrado e insustentável, estamos cavando a nossa própria cova.
2015 começa com uma nota de pessimismo. Até mesmo o carnaval, símbolo da alegria brasileira, está ameaçado pela falta d’água. Porém, a crise hídrica pode ser uma oportunidade para uma mudança paradigmática radical rumo a uma sociedade orientada para o chão e não para o céu, a espera de milagres.
Agora, isso somente acontecerá se as causas reais de o problema forem resolvidas. E entre as causas da seca e falta d’água, além da falta de investimento em estrutura, estão o desflorestamento e a agropecuária.
Está na hora do Brasil enxergar suas florestas como seu maior patrimônio e implementar um plano de reflorestamento para tentar reverter a situação. Uma das grandes causas do desflorestamento na Amazônia que causa a seca no Sudeste é o desflorestamento da parte sul da floresta que é dizimada para virar pasto para gado. Estamos rifando nosso futuro por um pedaço de carne e monoculturas de soja, da qual grande parte é usada para alimentar gado fora do Brasil.
A pecuária é uma das atividades que mais consome água, e não é possível falar da crise hídrica sem tocar nesse assunto. A verdade ambiental dessas atividades não pode mais ser velada. Na verdade, é criminoso esconder os fatos ambientais ligados a criação de animais como fonte de carne. Para cada quilo de carne, são necessários em torno de 15 mil litros de água, segundo a Water Footprint, uma organização que promove o uso eficiente de água. Essa cifra astronômica, creio eu, fala por si própria.
As campanhas de racionamento de água tendem a focar em ícones domésticos como torneiras, chuveiros, descargas e mangueiras. É absolutamente crucial que as pessoas mostrem reverência com tudo aquilo que a natureza fornece para seu bem-estar, por isso, sim, devemos usar água com muito respeito e cuidado, assim como a comida e tudo mais. Mas deixar de fora os verdadeiros vilões da crise hídrica não resolverá o problema. É preciso que a população tome consciência desses dados que raramente são revelados.
2015 vai ser um ano difícil. O século XXI vai ser difícil. A festa do esbanjamento acabou. Precisamos reaprender a viver de forma compatível com o que nos resta de planeta. Que 2015 seja o ano em que construiremos a base dessa mudança.
Lobo Pasolini é jornalista, blogueiro e videomaker. Escreve sobre energia renovável e questões verdes para www.energyrefuge.com e www.energiapositiva.info
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