Tenho que controlar meus nervos. Certo dia, estava numa mesa de bar quando o assunto tornou-se “Friends”, aquele seriado de TV norte-americano bem famoso, que não é uma unanimidade no mundo só porque os dedos das mãos não são iguais, ou porque o sol nasceu pra todos, ou mesmo porque gosto é igual a bunda, cada um tem a sua. Talvez por isso não costumo andar com uma plaquinha na testa dizendo: “Cuidado: sou daqueles ‘friendsmaníacos’, já assisti a todos os episódios, várias vezes, em diferentes épocas, e, até hoje, vejo, leio e procuro tudo relacionado à série”. Assim, fui descobrir que não tenho tolerância a quem não gosta, nunca viu ou fala mal da série justamente nesse dia, na mesa do bar. Como o sujeito que balbuciava as asneiras contra a melhor série de comédia da TV insistia em seu discurso, resolvi ir embora, pra não render assunto, chamar pra briga ou ficar com mais preguiça ainda do abobado. Levantei- me da cadeira com o cara soltando: “Não sei como alguém pode achar graça naquelas cenas de humor ridículo, e ainda com aquelas risadinhas chatas...”.
Não iria argumentar com alguém que não reconhece a magia que é acompanhar exatos 236 episódios, em dez temporadas, saber de cor e salteado cada característica dos seis personagens, esperar pelo final, que foi visto por 52,5 milhões de telespectadores só nos EUA; um programa que já foi transmitido em dezenas de países, cujas reprises continuam com boas audiências (na Warner, “Friends” ainda é exibido em quatro horários diferentes, de segunda a sexta), e que, na semana passada, comemorou os 20 anos de exibição do primeiro episódio; que foi indicado 55 vezes ao prêmio Emmy (ganhou em seis), nove ao Globo de Ouro (ganhou um), além de ter conquistado cinco prêmios People’s Choice, dois SAG Awards e mais de 50 outros prêmios com 152 nomeações. É mole ou quer mais?
De fato, quem é fã da série costuma ter a sensação de quase fazer parte da vida dos personagens, que ainda parecem existir, tamanho sucesso de cada um. Muita gente chorou vendo Monica (Courteney Cox) pedir Chandler (Matthew Perry) em casamento, riu compulsivamente com as loucuras, burrices e leseiras de Phoebe (Lisa Kudrow) e Joey (Matt LeBlanc) – e os têm como personagens preferidos, claro –, e torceu enlouquecidamente pelo final feliz entre Ross (David Schwimmer) e Rachel (Jennifer Aniston).
Cada um deles tinha características tão fortes que os fizeram inesquecíveis e viciantes: Ross Geller, um paleontólogo que se divorciou três vezes, com seu jeito bobão, inteligente e apaixonado; Chandler Bing, um analista de sistemas cômico e sarcástico, com as piadas certas nas horas erradas; Monica Geller, uma chef de cozinha ex-gorda, neurótica por limpeza e que gosta de ser a dona da verdade; Rachel Green, uma rica dondoca que virou garçonete do Central Perk (lugar em que os seis amigos se encontravam) e, depois, consultora de moda engraçadinha e decidida; Joey Tribbiani, um ator ítalo-americano canastrão e nada esperto, com fama de pegador e jeito encantador; e Phoebe Buffay, uma ex-moradora de rua excêntrica e mística, massagista e a musicista de “Smelly Cat” mais divertida do universo. Relembrando assim, dá até vontade de ver tudo de novo. E não venha me falar que não ficou com um sorrisinho saudoso aí no rosto. Cuidado, sou “friendsmaníaco”, hein?!