Uma constatação notória e inquestionável na avaliação dos últimos anos é a perda de qualidade nas relações humanas. Ninguém tem dúvidas dos avanços das ciências, refletidos na medicina, na engenharia, nos processos de automação, na maior produção industrial e de alimentos por meio das técnicas a serviço da agropecuária. A comunicação digital e seu uso para ampliar com maior velocidade e segurança os mecanismos de oferta e circulação dos meios de pagamento são também evidentes, econômicos e sem retorno.
Infelizmente, esses e muitos outros progressos não têm sido acompanhados pelo relacionamento humano. Vivemos como estamos assistindo, com as ameaças da barbárie na antessala.
Excluída a tragédia de Janaúba, esta produzida pelas mãos de um louco infeliz, o que se observa todos os dias é de arrepiar, tal a dimensão de como crescem entre nós as mais variadas deformações. As tevês mostraram nesse fim de semana a guerra sem trégua de gangues criminosas chamadas de “torcidas organizadas”, nos casos mostrados da rixa entre a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde. Relatos de assassinatos frios e com requintes de crueldade, com o sacrifício da vida de jovens, muitos deles trabalhadores e universitários, surpreendidos em emboscadas para serem mortos a golpes de barras de ferro, sem qualquer razão senão uma paixão estúpida por times de futebol. E não foram dois ou três casos: isso ocorre toda semana na saída dos estádios, nos chamados “clássicos”. Matam-se seres humanos por nada ou por uma paixão idiota e banal.
Nos mesmos noticiários são mostrados tiroteios na comunidade X, que foi invadida pela gangue do tráfico da comunidade Y, e no confronto foram mortos cinco marginais, dois soldados foram feridos, e Artur, ainda dentro da barriga de sua mãe, foi morto porque recebeu uma bala perdida que achou sua cabeça.
Em paralelo, a imprensa vem divulgando os índices de aceitação de arrivistas da vida pública, tipos como o deputado Bolsonaro como candidato à Presidência da República, um boçal que agrada aos que como ele pensam (e são muitos), vomitando ameaças e palavrões sem qualquer escrúpulo ou reserva nos microfones para todo o país ouvir. Ouvimos também o bate-boca do itinerante prefeito de São Paulo, João Doria, que reage às críticas feitas a seu governo e a sua forma de administrar sempre aos coices. Não paramos aí: em defesa de Lula, o viúvo que de nada se lembra, acusado de cometer toda sorte de corrupção e desvios do patrimônio público, surgem grupos que ameaçam reagir à prisão do prontuariado elemento, incendiando o país.
Em todos esses aspectos já fomos melhores. Nossa história assim testemunha. Já tivemos um Congresso Nacional menos servil e vulgarizado, que produziu exemplos de melhor estirpe como homens públicos. Ao atual Congresso talvez não voltasse a metade de seus membros se lhes fosse exigido atestado de bons antecedentes ou psicotécnico. Excluídas as últimas quatro ou cinco safras, o Brasil teve presidentes da República que não nos envergonharam. Se não nos preocuparmos com o nosso futuro, nas próximas eleições poderemos reconduzir às Assembleias legislativas, à Câmara, ao Senado, aos governos dos Estados nomes que inviabilizarão definitivamente o Brasil. E ainda poderemos ter na Presidência da República um boçal, ou um histérico, ou um ladrão. Ou a infeliz conjugação dessas faces em um único exemplar. Aí só nos restará a morte.
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