“Estou triste, pensei que ia bombar”, foi a frase da vendedora Luiza Belmont, ambulante que atua na estação Consolação do metrô, decepcionada com a baixa demanda de seus produtos verde-amarelo fabricados para enfeitar os manifestantes de ontem em São Paulo. Como a operação do metrô foi mantida de maneira regular, era esperado que por ali chegassem aqueles que encheriam a avenida Paulista, no protesto organizado contra a presidente Dilma Rousseff e seu governo. Talvez seja a crise, mas Luiza, peça de uma estatística maior, tem outra análise: os protestos estão perdendo força.
A sociedade grita por governos decentes, nos quais a corrupção não seja o resultado natural da realização de obras, do empenho dos gastos públicos, dos investimentos necessários ao crescimento das empresas públicas, como a Petrobras, a Eletrobras e outras 139 instituições dependuradas como sanguessugas nos recursos do Tesouro Nacional. O cidadão pretende que não seja a corrupção a peça de defesa mais cintilante e eficaz para abater os autos de infração julgados no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) de Brasília (DF) – este que promete ser o mais novo escândalo de plantão. Aí, esperem, há bilhões varridos para debaixo do tapete.
A sociedade quer que sentenças prolatadas pelo Poder Judiciário não sejam produzidas pelos conchavos armados pelos grandes escritórios de advocacia, afinados com ministros, desembargadores e juízes, denunciados à larga em representações que as corregedorias e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não são capazes de processar e julgar.
A sociedade não quer um Congresso de Bolsonaros e de seus malformados aprendizes, com senadores e deputados ausentes, surdos às demandas evidenciadas por seus eleitores, que passam os mandatos vomitando pelas redes sociais o que não acreditam, em bem trabalhados vídeos, com suas falas vazias e com suas representações igualmente vazias.
A sociedade quer projetos exequíveis, governos comprometidos, instituições autênticas e fortalecidas, políticas públicas concebidas para que o Estado seja presente nas áreas em que sua autoridade seja indelegável e naqueles setores onde esse mesmo Estado possa representar o incremento do aperfeiçoamento da economia, da realidade e das relações sociais.
A sociedade quer efetividade, propostas concretas – e não promessas. Não quer ouvir conversa fiada, panelaço nas frestas da janela, blá-blá-blá de senadores e deputados de momento. O Brasil quer mais, mas infelizmente não sabe onde buscar o que nos falta, porque as lideranças que se apresentam, independentemente do poder que integram ou onde estejam, ainda não se mostraram maduras e confiáveis. Como já muito dito, há vagas para estadistas.
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