O ano de 2014 está se despedindo e a nota tônica do momento está na cautela, na racionalização e na austeridade. As empresas estão enxugando custos, repensando investimentos e planejando melhor suas estratégias, para sobreviverem no próximo ano com as reservas que essa atitude produzir. Nas empresas privadas, o mar não está para peixe. Mais arrochado ainda está para o setor público, que vai ter suas receitas decotadas como resultado da redução da atividade econômica, que sempre ocorre nos três primeiros meses de todos os anos.
Ficou lugar comum e aceitável admitirmos que o Brasil só funciona depois do Carnaval e por isso as empresas recorrem à concessão de férias coletivas, ao corte de admissões e, por fim, às demissões para equilibrarem seus custos.
Não há quem, agindo responsavelmente, não imagine um quadro de limitações nessa época de todos os anos. É hora de pisar no freio e guardar.
Talvez seja por isso que ofenda tanto a sociedade essa festa que se desenha para acontecer, quase como um desrespeito, no início de cada governo, quando se renovam ministérios, secretarias e tudo que acompanha essa farra, para prover cargos e sangrar os já anêmicos cofres públicos.
O Brasil tem 39 ministérios, o que é, pelo próprio número, um facilitário indomável para que se prospere a corrupção, o suborno, o descontrolado e imoral aparelhamento do Estado. Troca-se o presidente da República e consequentemente alteram-se embaixo os assentos em mais de 20 mil cargos públicos, todos recrutados politicamente; muda-se porque é a vez dos que ganharam. É a vez dos novos, dos que chegaram.
Em Minas, temos 17 secretarias e para espanto, pelo menos meu, o novo governo já anunciou a criação de uma nova pasta, a de Direitos Humanos. Mesmo antes de sua aprovação pela Assembleia Legislativa, já foi divulgado quem a ocupará. Com um pouco mais de bom-senso e trabalho, se o Estado funcionasse bem nos setores onde tem obrigação de operar, os direitos humanos estariam assegurados. Direitos humanos, entendo, é o direito amplo à educação, à saúde, ao trabalho digno, à segurança de todos, ao acesso à justiça, à promoção social, à proteção da lei como reguladora das relações em sociedade.
Não ouvi da presidente da República, de nenhum governador eleito ou líder político em toda vastidão deste Brasil o compromisso com o enxugamento do Estado, com a redução dos cargos de confiança, das verbas de representação, dos privilégios de certos administradores públicos, da enxurrada de nomeações sem critério e necessidade que já esperam prontas para serem publicadas nos diários oficiais e entrarem em vigor.
Num Estado sem recursos para o essencial, para que esse mesmo Estado possa cumprir suas obrigações constitucionais genuínas, é um ato de moralidade combater o desperdício. É o mínimo que se espera dos novos governos.
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