Se a indústria, de forma geral, reclama da recessão e da forte queda da produção dos últimos tempos, o mesmo não poderão dizer os fabricantes e o comércio de gravadores; nunca tal equipamento foi tão utilizado e em especial no trabalho de investigação das mais retumbantes operações, por parte da polícia e do Ministério Público Federal, para seu posterior julgamento, pelo Judiciário, nas frentes abertas Brasil a dentro para coibir a corrupção, o tráfico de influência e a formação, a pós-graduação, o mestrado e o doutorado de quadrilhas. É o que mais se tem visto, ultimamente. Quem se lembra de como se instalou a operação Lava Jato viu que a contadora de Alberto Youssef, Meire Poza, passou meses gravando depoimentos colhidos em encontros que ela mesma armou exatamente para entregar à PF a atividade delituosa de um grupo formado para viabilizar negócios de empreiteiras de obras públicas com governos.
Pela mesa de Meire passavam as negociatas engendradas por Youssef e que ela teria que dar forma de verdadeiras, transformando-as em fatos contábeis. Em algum momento, era preciso que somas absurdas de dinheiro, nutridas pelo caixa 2 das empresas clientes, tivessem um fio de realidade; esse era o papel de Youssef e de sua gangue, nela presente a própria Meire. Por alguma razão, ainda um tanto obscura, a contadora resolveu abrir o jogo e ajudar a colocar seu patrão na cadeia. Nasceu aí o sururu.
Agora, quem ocupou a cena foi o ex-diretor da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado, um tipo que frequentou altas rodas da República e que se aplicou em gravar conversas com políticos de alto-coturno, de quem ouviu, no pouco que já fora revelado da degravação de sua delação premiada, chocantes confissões de autoria e cumplicidade, as mais deslavadas atitudes, quase todas capituladas no Código Penal. Algumas, menos importantes, são fuxicos, mas que expõem a indigência moral de muitos de nossos representantes, no caso, todos aboletados no poder e com responsabilidades de mando e decisão. Decidem sobre a vida dos brasileiros, da forma mais ampla e abrangente, sem escapatória. O acervo de Sérgio Machado tem material para escandalizar-nos muito mais, tudo colhido em Brasília, pelo gravador que ouviu, em “tenebrosas transações”, políticos do PMDB, do PP, do PSDB e do PT.
Não há um dia mais sem que a mídia revele uma gravação, uma delação, uma mutreta engendrada para que alguém possa levar pra casa o que o Tesouro nos tomou como impostos e não transformou em ações da responsabilidade genuína do Estado, como educação, saúde e segurança, para citar algumas.
O Brasil está falido, a sociedade desmotivada e sem esperança e os nossos políticos, sem projetos e compromissos. Para onde vamos?
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