Durou pouco o alívio de Dilma Rousseff, como o que ocorreu na semana passada quando foi presenteada pela denúncia do ainda presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de seu envolvimento no festival de propinas da Petrobrás. Denunciado pelo MPF de haver recebido sucessivas contribuições em dinheiro como suspeita de suborno para facilitar negociações ocorridas na estatal, precisamente investigadas pela PF e pelo MPF, o presidente da Câmara foi alvejado com um tiro que o fez sair da trincheira por ele construída para desestabilizar o governo Dilma. Pelo menos momentaneamente. Eduardo Cunha, que tem fôlego de sete gatos (sem trocadilhos), reagiu como todos os envolvidos sempre reagem, negando conhecer os demais acusados e eventuais delatores. Nesse teatro, ele ainda recebeu a solidariedade de seus pares no PMDB e no Legislativo. Em São Paulo, foi homenageado pelo grupo liderado pelo presidente da Força Sindical, o deputado Paulinho da Força, em bem organizada manifestação popular que entoou o grito já gasto de “Eduardo Cunha, herói do povo brasileiro”. Meu Deus, onde chegamos.
Poucos acreditam em Eduardo Cunha, mas ninguém duvida de como é trabalhoso tê-lo como inimigo, no comando de uma Câmara que é um ajuntamento e de uma oposição errante, sem projetos para mudar o país.
Ainda que por pouco tempo, como se prevê e desejam, ele pode remontar um cenário indesejado pelo PT, que é a inclusão na agenda da Câmara do processo de impeachment da presidente. É quase o clamor das ruas, motivado pelo desemprego, pela inflação, pela notória redução da atividade econômica e o agravamento desse conjunto de tropeços. A desidratação do poder político do Palácio do Planalto retira da presidente ferramentas importantes com cujo auxílio poderia resistir ao turbilhão de dificuldades que sua equipe econômica e seus ainda parceiros políticos tentam ajudá-la a contornar. Em suma, os estoques de resistência e de reação estão no nível morto. Salva a presidente, ainda, a estabilidade institucional que lhe dá a Constituição e que marca o impeachment como uma afronta a lei.
As ruas acusam o governo de ser incompetente, incapaz de produzir soluções, de não oferecer alternativas para a recessão que se alastra e nos pune, mas também não geram, com os protestos que empreendem, agendas transformadoras. Fora Dilma para milhares. Fica Dilma para outros milhares, em menor dimensão, mas fora o ajuste fiscal. Mais escolas, mais saúde, mais segurança, mais mobilidade, mas menos impostos, menos tarifas, menos juros, menos inflação. A conta não fecha. De tanto prometer e não entregar, de tanto propor e não realizar, o governo está no cume do desgaste possível. E infelizmente não sinaliza com melhoras. E quando sinaliza, não convence.
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