O presidente Michel Temer convive com o desejo febril da sociedade brasileira de que o país volte a crescer, a inflação seja contida, o emprego ressurja para 11 milhões de brasileiros e o tão desejado programa de reformas se produza dentro de uma agenda possível e de permanente evolução. Mas seguimos parados no mesmo lugar; os otimistas dizem que a situação parou de piorar, o que, convenhamos, é muito pouco. Só isso poderá tornar a dormência do governo Temer, em pequeno prazo, muito perigosa, produzindo um quadro social insustentável.
Praticamente é nada o que até o momento mudou, diante do que a nação objetivamente precisa e espera. Dilma caiu, Eduardo Cunha também, e as oposições ao atual governo são pontuais e de pouca densidade. Ajudam nessa análise os resultados até agora contabilizados pelos partidos que formavam a base de Dilma, nas eleições que virão. Temer tem, assim, a sua frente uma larga avenida para caminhar, com o apoio de um Congresso com o qual forjou as estratégias que resultaram na implementação das últimas mudanças do cenário político nacional; é o mesmo Congresso com quem Temer construirá, assim se espera, os alicerces de um novo e prometido Brasil, como desejado pelos que têm a urgência da fome, da falta dos serviços básicos de saúde, de segurança, de educação e habitação, e da dignidade que o trabalho confere aos que o têm.
Teme-se o aprofundamento da recessão, e o atual governo propõe e obtém o congelamento das despesas públicas por 20 anos. Nesses mesmos 20 anos não estão alcançados por essa norma os gastos do Legislativo e do Judiciário, mas os já precários serviços públicos da saúde, da educação pública, da segurança, da habitação e da mobilidade urbana. O ministro da Fazenda é cartesiano: não se sustenta um país que gasta mais do que produz. “É como em toda família” – diz o ministro Meireles –, e disso sabe melhor a maior parte do povo brasileiro. Quando não se tem educação pública, recorre-se às escolas privadas; quando não se tem saúde pública, recorre-se aos planos de saúde, aos serviços e médicos particulares.
A segurança, precaríssima e ineficiente, é ajudada pelos serviços privados. Quando se tem como pagar. A falta de habitação, por exemplo, está “resolvida”, senhor ministro, pelo crescente favelamento das cidades, e a mobilidade urbana, que espere. Concordemos que há, não resolvidos, problemas graves de gestão de recursos públicos; há também uma inaceitável e repugnante corrupção na administração pública, mas, para solucionar tudo isso, é preciso ter peito, lisura, grandeza, trabalho e compromisso. E ainda decência e autoridade moral. Com conversa fiada, com acordos de cavalheiro, com tapinha nas costas, essa realidade não vai mudar.
Com as fianças que foram dadas ao governo Temer e com tudo que sabe o ministro Henrique Meireles, da Fazenda, que parta especialmente deles o convite para que outros atores participem desse projeto de recuperação nacional. Os bancos engordados pela agiotagem descarada, os segmentos da indústria largamente servidos dos subsídios públicos, os sindicatos guardiões de direitos, muitos impagáveis e sempre atentos conquanto os cortes não se produzam em sua turma, os servidores públicos e empregados das estatais, centenas de milhares deles mamando aposentadorias imorais, conquistadas por meio de manobras lesivas, do cochilo ou cumplicidade dos legisladores, todos têm lugar à mesa.
Mãos à obra, presidente, com equilíbrio e justiça. Um pouco mais rapidamente, por favor.
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