A vereadora Marielle foi uma das 153 vítimas de assassinato no Brasil naquele 14 de março de 2018. Anderson, seu motorista, também entrou para esta assustadora estatística. Naquela mesma noite, por exemplo, não muito longe de Marielle, faleceu durante um assalto o empresário Claudio Henrique da Costa Pinto. Foi assassinado na frente de seu filho de apenas cinco anos.
Há tempos vivemos uma situação de calamidade pública com a violência no Brasil. Este não é um fenômeno recente. Nosso país concentra 10% do número de homicídios no planeta. Em números absolutos, lideramos o mundo neste quesito. As mortes violentas que acontecem no Brasil são três vezes as ocorridas na soma da Europa, metade anual de toda Ásia e África, um terço das Américas e cerca de 50 vezes do número de homicídios na Oceania. Percentualmente, entretanto, estamos atrás de El Salvador, Honduras e Venezuela, ocupando um nada honroso nono lugar.
Marielle foi vítima da mesma violência que tirou a vida do menino João Hélio, arrastado por sete quilômetros preso ao cinto de segurança em 2007 e daquela que tirou a vida do jornalista Tim Lopes. Assim como o desaparecimento de Patrícia Franco, Priscila Belfort e o assassinato da juíza Patrícia Acioli. A lista é interminável.
A violência que atingiu Marielle não escolhe cor, credo, condição social ou econômica ou orientação sexual. Os brasileiros são reféns da impunidade, vivem amedrontados e escondidos, aparvalhados com a escalada do crime e o crescimento da corrupção, que alimenta a violência. O brasileiro está sendo atingido em seu direito mais básico, o de exercer sua cidadania.
A vereadora não foi a primeira parlamentar municipal vítima desta violência. Aqui, infelizmente, a lista também é grande. Foram mais de 90 assassinatos nos últimos 30 anos. 36 deles desde 2016. Em Minas, foram dois vereadores em 2017. De 2007 a 2016, oito foram assassinados no Estado do Rio de Janeiro. Somente em Magé, nove foram mortos em 20 anos. No Piauí, oito prefeitos foram assassinados em dez anos. Lá existe inclusive uma associação das viúvas de prefeitos assassinados.
A resposta do Estado precisa ser firme. Precisamos de menos impunidade, ações efetivas das forças policiais, investimento em inteligência, presídios mais seguros. Acima de tudo, é preciso devolver ao brasileiro o direito de exercer sua cidadania, seu direito de andar livremente, usufruir dos espaços públicos, mandar seus filhos para escola, viver sem medo. Se desejamos prevalecer como povo, vencer como nação, nos orgulharmos inteiramente de nosso país, é preciso fazer diferente, ou seja, aquilo que não foi feito ou experimentado.
Ações que fortaleçam a cidadania por intermédio das forças de segurança, como temos visto no Rio de Janeiro é um importante primeiro passo. Se a intervenção provocou reações do crime, é porque estamos no curso certo. Este é o longo caminho que pode evitar que nossas futuras gerações se tornem apenas mais uma triste estatística de um país derrotado pelo crime, assim como se tornaram Marielle, Anderson e Claudio.
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