Desde as manifestações de 2013, um sentimento de rejeição aos políticos tradicionais vem se tornando cada vez mais real entre os brasileiros. Enxergamos esses traços nas pesquisas qualitativas para as eleições de 2014. Essa tendência começou a fazer os primeiros eleitos em 2016 e pode atingir seu ápice em 2018.
Esse não é um fenômeno que enxergamos apenas no Brasil. A eleição de Donald Trump nos mostra que existe um movimento real de repulsa aos políticos, algo que pode levar ao poder nomes de fora do chamado establishment. Essa rejeição do eleitor ao sistema tradicional ficou clara com o Brexit e, em breve, pode fazer mais vítimas, possivelmente nas eleições francesas e alemãs.
Os partidos são outro alvo desse processo. Sua reinvenção passa por sua transformação em movimentos mais abrangentes, direcionados e agregadores. Exemplos clássicos foram Podemos e Ciudadanos, na Espanha, mas também o Movimento ao Socialismo, na Bolívia, e o Cambiemos, de Maurício Macri, vencedor das eleições argentinas. Enxergamos movimentos também nas políticas alemã, italiana e francesa, com a popular Frente Nacional.
No Brasil, aos poucos esse entendimento vem sendo sedimentado. O antigo PFL foi rebatizado de Democratas, Marina Silva denominou seu partido de Rede, os liberais se aglutinaram em torno do partido Novo, e, assim, aos poucos, os ventos de fora começam a soprar também por aqui. Vale lembrar, entretanto, que a mudança de nome sem uma mudança de postura estratégica não gera resultados. Os novos partidos, rebatizados de movimentos, precisam focar temas transversais, que ajudarão em sua sedimentação. Novo e Rede têm cumprido bem esse papel.
Esse sentimento de rejeição ao establishment impulsiona o surgimento de outsiders, atores de fora do espectro político que chegam com força expressiva às urnas. Isso significa que veremos novos nomes, mas também velhos políticos tentando se reinventar como representantes dessa nova tendência. Nas grandes cidades brasileiras, essa inclinação pode ser verificada com a eleição de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro e de Nelson Marchezan Júnior em Porto Alegre, ambos políticos, porém ligados a movimentos que catapultaram seus nomes, além de João Doria em São Paulo e de Alexandre Kalil em Belo Horizonte, dois casos clássicos de outsiders.
O Brasil chegará a 2018 com um cenário aberto, muito similar ao de 1989, quando Fernando Collor foi eleito presidente. Caberá aos candidatos realizar a leitura correta e fazer sua aposta. A eleição presidencial que teremos adiante pode reservar mais surpresas do que podemos imaginar.
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