Como disse certa vez o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, “no Brasil, até o passado é imprevisível”. Nosso país foi uma máquina de crescimento no pós-guerra. De 1945 a 1978, tivemos a economia com a maior taxa média de crescimento de todo o mundo – cerca de 7% ao ano. Recentemente, vivenciamos a maior recessão de nossa história nos três últimos anos do governo Dilma. A variação do PIB, que mede toda a riqueza criada no país a cada ano, cresceu apenas 0,1% em 2014 e caiu 3,8% e 3,6% em 2015 e 2016, respectivamente. A renda per capita despencou 9,1%. Ou seja, em bom português: ficamos mais pobres.
É preciso, de uma vez por todas, que a sociedade brasileira encare sua crise estrutural, aproveitando o debate nas eleições presidenciais de 2018 para decifrar seu “enigma da esfinge” econômico, do tipo “decifra-me ou devoro-te”. Para além do blá-blá-blá de populistas, demagogos e mistificadores, é preciso se ater às evidências apresentadas pela realidade para mudar os rumos do país. Basta um simples exercício, enfrentar uma pergunta direta: por que o Brasil e a Coreia do Sul tinham em 1960 o mesmo PIB per capita e hoje o produto médio por habitante dos coreanos é o triplo do nosso? Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita da Coreia do Sul em 2016 foi de US$ 27.538,81, e o do Brasil, US$ 8.649,95.
Ao lado de superar a instabilidade política dos últimos tempos, a maior tarefa do próximo presidente da República do Brasil será continuar a introduzir reformas, ajustes e mudanças que nos devolvam o horizonte de retomada de crescimento e ampliação contínua do emprego e da renda.
O governo de transição de Michel Temer tem produzido mudanças relevantes: mudança do pré-sal, reestruturação do setor elétrico, Taxa de Longo Prazo (TLP), reforma trabalhista, regulamentação da terceirização, teto de ampliação do gasto público, discussão da reforma da Previdência.
O crescimento da economia deverá ser de 0,9% em 2017 e 3% em 2018. A inflação de 2017 foi a menor desde 1998 (2,95%), favorecendo os mais pobres, que são os que mais sofrem com a inflação alta. Foi o menor índice desde que foi implantado o sistema de metas inflacionárias. Os juros alcançaram o menor patamar da história da Selic, a taxa básica de juros. O desemprego continua caindo, embora ainda esteja muito alto. Mas uma das três principais agências de classificação de risco, a Standard&Poor’s, rebaixou a nota brasileira. Isto é péssimo para a retomada dos investimentos. O problema central é o desequilíbrio orçamentário do setor público. Só a reforma do Estado, diminuindo seu tamanho e cortando gastos, principalmente nas despesas correntes e previdenciárias, pode assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento.
O atual governo e o próximo presidente têm um encontro marcado inevitável com o ajuste fiscal. Sem isso, a inflação, o desemprego, os juros e a desconfiança em relação à economia brasileira voltarão a crescer.
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