Isso não tem nada a ver comigo. É sobre um casal com três filhos que no outono passado se mudou para o meu bairro. A primeira vez que vi os dois foi no começo de uma tarde de sábado, entrando no mercadinho da rua. Nas semanas seguintes, os encontros aconteceram aleatórios e cordiais, nem sempre com o par, nem sempre com filhos, algumas vezes com a família completa. O convívio se intensificou quando nossas caçulas começaram a frequentar a mesma escola de natação, no mesmo horário, na mesma raia. Os acenos meio sem graça foram se tornando sorrisos mornos e depois cumprimentos contundentes e depois demonstrações reais de simpatia e depois conversas efusivas e reveladoras.
Nos recreios garantidos pelas braçadas das meninas, acabamos deixando conhecer um pouco das nossas biografias. Contava sobre meu caminho sem curvas, ela falava sobre o envolvimento gasoso e inconsequente de quase 20 anos atrás que se transformou em um casamento quentinho e com grande tendência a durar. Eu exibia as fotos da minha família tipo propaganda de margarina, ela desabafava sobre a função de malabarista que assume todas as manhãs para dar conta da cria, da casa, do trabalho, dela mesma. Eu reclamava do esforço da vida inteira para não enlarguecer mais que o razoável, ela contava sobre o orgulho do corpo que já tinha dado conta de tanto, a levado a lugares incríveis e que permanece forte e flexível mesmo com um número relevante de aniversários.
No mês que acabou, envolvida em umas arrumações que adiou por décadas, ela acabou sendo levada a fazer um balanço da parceria que vai completar 16 anos oficialmente. Fez questão de me contar um pouco do que colecionou com quem escolheu para dividir a vida: que foi por causa dele que não só tomou coragem de dirigir em estrada, como descobriu de que dava conta de qualquer coisa; que descobriu que guardar dinheiro é tão importante quanto transformá-lo em experiências inesquecíveis ou afagos táteis; que entendeu que ser generoso com quem se quer bem é lindo, mas virtude mesmo é fazer o mesmo com qualquer um que precise; foi do lado dele que aprendeu a desapegar do que não serve mais, objetos, relações ou endereços.
Para seguir o roteiro que acabou escrevendo sem querer, ela anunciou que está mais uma vez de mudança. Coincidência, eu também.
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