Os últimos acontecimentos políticos – votação da preservação do mandato de Aécio Neves, denúncia contra Michel Temer e desgaste de João Doria nas pesquisas – abalaram profundamente o PSDB. A principal consequência disso é o risco de o partido chegar a 2018 sem um candidato competitivo à sucessão.
O senador Aécio Neves foi tratorado pela Lava Jato por seu envolvimento no escândalo Joesley Batista; João Doria, o fenômeno eleitoral tucano da vez, perdeu substância depois que a avaliação de sua gestão sofreu queda de 9 pontos percentuais; e o governador Geraldo Alckmin não empolga os tucanos, de quem na prática foi se afastando e faz uma política essencialmente local.
Os problemas do PSDB começaram com a decisão de participar do governo, o que provocou um racha na bancada de 47 deputados, hoje dividida entre o “partido a favor de Temer” e o “partido contra Temer”.
O primeiro grupo alinha-se a Aécio, presidente afastado, que dá apoio incondicional a Temer; o restante acompanha o senador Tasso Jereissati, presidente interino, líder da ala histórica dos tucanos. Na companhia do senador cearense estão os prestigiosos economistas do partido, entre eles Edmar Bacha, um dos autores do Plano Real, responsável pela eliminação da inflação e instrumento eleitoral da conquista do poder no período 1994-2003. A eles juntam-se os jovens parlamentares, apelidados de “cabeças pretas”.
Estrelas do tucanato, como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, filiaram-se ao Partido Novo, que tem como candidato ao Planalto João Amoêdo, ex-operador de mercado à frente de um time que estreia na corrida eleitoral com a pretensão de representar a “nova política”.
Sob o governo Temer, o PSDB desfigurou-se ideologicamente ao votar contra projetos que visam à estabilidade fiscal, previstos no programa do partido. Tem dois de seus caciques, senadores e tradicionais candidatos à Presidência, acusados de corrupção na operação Lava Jato: Aécio e José Serra. Aos poucos, a legenda foi se transformando numa espécie de PMDB – apoia governos, mas sem candidato a comandá-los.
Nos últimos dias, dois graves desentendimentos entre tucanos aprofundou a crise. O ex-governador Alberto Goldman, voto contrário ao projeto de Doria rumo à Presidência, aproveitou os dados do Datafolha, que mostram o golpe na popularidade de Doria, e disse que São Paulo não tem prefeito. O prefeito respondeu de forma ofensiva, chamando Goldman de “fracassado”.
A reação destemperada de João Doria foi uma tragédia para os tucanos. O empresário de ontem, hoje político, que parecia cheio de gás na rampa de lançamento presidencial, de repente virou saco de pancadas de toda a mídia. A “Veja” classificou o prefeito como uma espécie de “rei da encrenca”, um profissional da confusão, desatento à administração. Ele passou a ser cotado para o governo estadual.
Outra briga desestabiliza o próprio comando do PSDB. Logo depois da votação no Senado que assegurou o mandato de Aécio, afastado pelo Supremo, Tasso Jereissati pediu sua renúncia imediata, bem antes da eleição para a presidência, marcada para dezembro. Apesar de ser criticado pelo desgaste que sua figura agrega ao PSDB, Aécio respondeu que aceita, desde que Tasso também renuncie.
O partido que já “apontou o rumo do Brasil”, como dizia o ex-presidente Fernando Henrique há mais de 20 anos, hoje transformou-se num partido parecido com os demais – sem projeto, sem comando, palco de cizânias.
O acelerado desmonte do PSDB desde que optou por apoiar Temer
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