Peço desculpas ao leitor dessa coluna porque ela havia sido escrita durante a manhã de ontem acreditando ainda no mínimo de moralidade entre os parlamentares da Câmara dos Deputados. Mas, a falta de ética, a arbitrariedade e a imoralidade deixaram de ser um vício naquela Casa para se tornarem prática habitual, disseminada a partir do presidente daquele Legislativo, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sendo assim, esse texto foi escrito às pressas já na madrugada de hoje.
Mais uma vez, Cunha et caterva repetiram o autoritarismo e o desrespeito à Constituição, como já haviam feito na votação sobre a legitimidade das doações de campanha por empresas, e viraram a mesa. Após uma longa sessão de tortura de terça para quarta-feira – foram cinco horas de debate de baixíssimo nível, com raras e louváveis exceções – a proposta de reduzir a maioridade penal para crimes graves de 18 para 16 anos foi rejeitada. No entanto, o alívio durou exatamente 24 horas.
Ignorando as regras do jogo e não aceitando a derrota imposta de forma legítima, a tropa reacionária e oportunista articulou e retornou com um projeto modificado, posto novamente em votação por Eduardo Cunha.
Apesar da imposição à força feita pela maioria da Câmara dos Deputados da redução da idade penal, o sentimento de resistência ao autoritarismo de parte do Legislativo e à falsa razão de seus representantes, embasada em ódio e individualismo, foi muito bem expressado por duas ou três dezenas de jovens presentes na galeria do plenário da Câmara ao fim da votação de quarta-feira. Foi bonito e encorajador ver os estudantes entoarem gritos como “Fascistas, fascistas... não passarão!” ou “Cunha, pode esperar, a sua hora vai chegar”.
Em um cenário de mortificação dos movimentos sociais e de extremismos diante de um governo ineficaz, desautorizado e aderente a práticas corruptoras e de uma oposição golpista e não menos corrupta, o protesto dos jovens na quarta-feira no Congresso é um chamado para a luta, para a possibilidade de fazer política fora da institucionalidade viciada do poder público brasileiro.
Após uma desesperança imobilizadora, o ressurgimento de forma tímida e ainda pouco organizada de uma indignação a essa onda do terror vigente no Brasil mantém a utopia por dias melhores, menos cinzentos. É necessário se opor diariamente a discursos e práticas de racismo; homofobia; legitimação econômica, social e até filosófica da desigualdade social; descristianização da religião promovida por falsos pastores... enfim, é hora de retomar o curso da história frente a esse regresso à Idade Média. Não é hora de calar-se.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.