Marcos Valério Fernandes de Souza ressuscitou, e, desde então, a política mineira não é a mesma. A decisão do empresário de romper o silêncio de mais de uma década desencadeou uma onda de pânico em políticos com e sem mandato e ainda pressiona o Ministério Público Estadual a se mexer. Condenado a 37 anos de prisão por crimes relacionados ao escândalo conhecido como “mensalão petista” – ele cumpre pena desde 2013 na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem – e ainda à espera do julgamento em três ações por outro caso grandioso de corrupção, o mensalão tucano, ocorrido em Minas, Valério disse aos promotores ter farta documentação para implicar cerca de 20 políticos mineiros, dez deles teriam foro privilegiado.
O primeiro estrago causado pela movimentação de Valério atingiu em cheio o PSDB. Além de estar disposto a confirmar a gênese do esquema de desvio de propinas durante o governo tucano de Eduardo Azeredo (1995 a 1998), ele aprofundaria as denúncias envolvendo membros do primeiro escalão do partido. O empresário garante ter documentos para comprovar falsos empréstimos no Banco Rural realizados para favorecer campanhas e políticos do PSDB durante os anos 2000. E essa seria justamente a grande novidade trazida por Valério, pois, entre outras coisas, embasaria a delação feita pelo ex-senador Delcídio do Amaral. Envolvido até o pescoço em investigações da operação Lava Jato, responsável por apurar desvios da Petrobras, Delcídio disparou para todos os lados e, entre outras coisas, acusou o senador Aécio Neves (PSDB) de atuar para maquiar dados do Banco Rural durante a CPI dos Correios, quando o tucano era governador de Minas, e Delcídio, presidente da comissão.
A delação tardia de Valério, inclusive, só teria sido decidida após a defesa de Delcídio procurar os advogados do empresário para convencê-lo a falar. Com ambos em apuros, um poderia ajudar o outro, pois Valério seria um dos poucos – quiçá o único – dispostos (e com provas) a dar veracidade às acusações de Delcídio.
Mas o repertório de Valério iria para além do Banco Rural e do governo de Minas e chegaria a membros da Assembleia Legislativa, de hoje e de ontem. Quem frequenta a Casa garante ser notória a mudança radical do clima entre deputados de diferentes matizes após o fator Valério. O comportamento de alguns parlamentares – em especial atuais e ex-integrantes do PSDB – varia entre arredio e acuado. Ninguém quer falar, por enquanto. O medo de ser citado em uma possível delação é grande.
Fora do mundo político institucional, o Ministério Público de Minas Gerais também parece incomodado com a pressão da opinião pública pela aceitação da delação de Valério. Na avaliação de alguns promotores, o empresário não teria muito mais a acrescentar e só estaria surfando na onda de delações da Lava Jato na tentativa de obter benefícios. Pode até ser verdade, mas será difícil explicar o porquê de não querer ouvir o homem considerado o principal operador de dois dos maiores escândalos recentes da história do país. É quase impossível crer na ausência de novas informações em um depoimento de Marcos Valério. Agora, se essas informações merecem ser transformadas em benefícios, e quais seriam esses benefícios, são outras questões.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.