A já complicada situação do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), ficou ontem ainda mais tensa após o Supremo Tribunal Federal (STF) retomar e suspender novamente, até abril, uma ação decisiva para o futuro do petista mineiro. O processo movido pelo DEM questiona o direito de o governador hoje só poder ser acionado criminalmente após um aval da Assembleia Legislativa do Estado. Pimentel foi denunciado duas vezes por corrupção passiva pela Procuradoria Geral da República (PGR), mas só se tornará réu caso os deputados estaduais autorizem – atualmente, o governador tem ampla maioria no Legislativo.
No Supremo, porém, no qual essa imunidade pode ser revertida, Pimentel enfrenta uma situação desfavorável. Na primeira rodada de julgamento da ação proposta pelo DEM, três ministros se manifestaram, sendo dois contrários à necessidade do aval dos deputados e um a favor. Ontem, a análise da ação foi retomada, e o governador mineiro continuou em desvantagem (5 a 4), inclusive com o voto da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, contribuindo para esse placar. Faltam apenas dois ministros para votar, ironicamente, dois ministros tidos como muito bem-relacionados com o PSDB, Gilmar Mendes e o novato Alexandre de Moraes – este último só pediu desfiliação partidária após ser indicado, no mês passado, pelo presidente Michel Temer (PMDB) para ocupar a vaga de Teori Zavascki na Corte.
Ou seja, a saúde política de Pimentel hoje está em boa parte condicionada aos votos de Moraes e Mendes. Pior cenário impossível, apesar de o STF ter-se mostrado nos últimos tempos um tanto quanto imprevisível. Caso vire réu em uma ação penal no Superior Tribunal de Justiça (STF), no qual será acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, as chances de ser afastado do cargo são grandes.
“Bobo da corte”. Em seu depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anteontem, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, ao ser questionado se era o “dono do governo” em razão de sua proximidade com políticos do primeiro escalão de Brasília, teria não só negado o rótulo, como se autodenominado nas relações com o Planalto como “otário” e “bobo da corte”.
Ao longo de sua longa relação com o poder, exposta de maneira explícita na operação Lava Jato, Marcelo Odebrecht pode ser chamado de muita coisa, menos de inocente. Sua construtora, considerada uma gigante mundial, só galgou esse posto porque se beneficiou, e muito, da intimidade com praticamente todos os governos brasileiros desde a época da ditadura militar. A Odebrecht e seus donos nunca foram vítimas. Corromperam e também aceitaram ser corrompidos. Eram uma espécie de governo paralelo. Nunca os bobos da corte.
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