Em uma conversa com a minha prima há uns dias, ficamos pensando em como os fios cada vez mais estão sendo cortados das nossas vidas. Atualmente, quase tudo é via Wi-Fi e bluetooth. “Quase” tudo. Porque nessa mesma conversa me lembrei de um caso que aconteceu há alguns anos, quando um amigo me telefonou.
Era um daqueles amigos que aparecem de tempos em tempos, que mesmo sem encontrar há “séculos” não dá para esquecer. Começamos aquela conversa interminável de quem sempre tem assuntos em comum, e aí, de repente, o telefone sem fio começou a apitar, sinalizando a bateria fraca. Corri para o telefone convencional, com fio, que ficava na sala da minha casa, antes que a ligação pudesse ser interrompida. Acontece que minha mãe estava nessa mesma sala, arrumando alguma coisa, cantarolando e ciente de cada palavra que eu pudesse vir a dizer. Eu não escondo nada da minha mãe, ela é minha melhor amiga, mas ainda assim reparei o quanto fiquei inibida de continuar a conversa no mesmo tom que vinha mantendo enquanto estava na privacidade do meu quarto. Como se eu só pudesse ser espontânea de verdade sem espectadores que pudessem me desmascarar e perguntar com quem eu estava conversando com aquele timbre e o motivo do sorriso.
O telefonema durou mais um pouco, tentei fingir naturalidade, tanto para o meu interlocutor quanto para a minha mãe, mas foi realmente uma situação embaraçosa.
Ao desligar, tive a sensação de que em todos os momentos de nossa vida interpretamos papéis. Somos uma pessoa para nossos parentes, outra em nosso ambiente de trabalho e outra para o namorado. Não é que finjamos algo que não somos, mas reservamos diferentes tipos de tratamento para cada um deles.
Quando meu irmão atende o telefone, eu já sei de cara se ele está falando com um homem ou uma mulher. A voz e a forma de falar são completamente diferentes dependendo do “alô” masculino ou feminino que ele escuta do outro lado.
Perto da minha prima também consigo reconhecer facilmente com quem ela conversa. Ela costuma chamar “carinhosamente” suas amigas por apelidos, digamos, “baixos” (melhor nem exemplificar), ao passo que ela trata o namorado por “neném”.
No filme “O Pequeno Dicionário Amoroso”, a protagonista diz que existem três tipos de “alôs” e que por eles já dá pra prever o sucesso (ou o fracasso) do telefonema.
Assim, podemos perceber que essa variação em nosso jeito, dependendo da pessoa com quem falamos, realmente é natural. O difícil é quando, no mesmo ambiente, estão duas pessoas que você trata de forma diferente. Daí o desconforto que eu senti durante a conversa com o meu amigo na presença da minha mãe.
Na adolescência, eu ficava ensaiando a minha voz para parecer ao mesmo tempo calma, inteligente e sexy, mas acho que, se no exato momento em que o telefone tocasse alguém da minha família entrasse no recinto, meu “alô” sairia desengonçado, trêmulo e aflito.
Fica aí a sugestão para os fabricantes de telefone sem fio: façam baterias portáteis, como as dos celulares. Assim, com um simples apito, poderíamos ligá-los a qualquer tomada para recarregar e continuar a conversar privadamente, em vez de termos que correr até o telefone com fio mais próximo e sermos impedidos de usar todo o charme que certos telefonemas merecem...
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