Em passagem por Belo Horizonte, o deputado Jair Bolsonaro conseguiu o que nenhum outro pré-candidato à Presidência da República obteve até agora: ampla, detalhada e exaustiva cobertura da imprensa. Essa exposição extrema à mídia não foi acidental: Bolsonaro se esforçou bastante para chegar às manchetes. Além das tradicionais declarações de apoio à ditadura e à violência policial e dos posicionamentos radicais em relação a todos os assuntos polêmicos, o deputado prometeu ainda trazer o mar a Minas Gerais. Não satisfeito, Bolsonaro também causou tumulto numa universidade da capital, onde seus apoiadores e detratores trocaram as agressões verbais e físicas de praxe. Assim, mesmo munido de discurso pobre e comportamento repetitivo, Jair Bolsonaro conquistou todas as atenções.
Os afoitos de plantão podem mencionar alguma teoria da conspiração que aponte para conluios secretos entre Bolsonaro, a sanha internacional do capitalismo ianque e a totalidade da imprensa brasileira: interesses sempre unidos contra a indefesa esquerda nacional. Entretanto, antes de assumir esse discurso fácil, é importante lembrar o incrível trabalho de divulgação que a esquerda vem prestando a Bolsonaro nos últimos meses: desde os militantes que se encarregam de tumultuar todos os eventos do deputado fluminense até o ex-presidente Lula, todos parecem concentrar esforços para tornar Bolsonaro cada vez mais famoso.
O fascínio petista por Bolsonaro, entretanto, não pode ser creditado unicamente a erros na estratégia de comunicação. O partido de Lula busca se colocar como o principal adversário capaz de defender o país da catastrófica chegada de Bolsonaro ao poder; para tanto, seria indispensável mostrar ao público o quão terrível pode ser o deputado fluminense.
Trata-se de uma estratégia que tem dado certo desde 2006, quando o PSDB ocupava o papel de vilão nacional. Hoje, Jair Bolsonaro ocupa com vantagens a função de nêmesis petista: opõe-se a quase todas as bandeiras defendidas pelo PT, é agressivo e antipático, é ex-militar e elogia torturadores do período da ditadura. Bolsonaro toca voluntariamente em todas as discussões que os petistas gostam de debater e nas quais acreditam ter bons argumentos.
O problema surge quando os petistas supõem que o povo brasileiro pensa como seu partido e que ficaria naturalmente a seu lado no caso de confrontação de imagens e ideias polêmicas. Por exemplo, o discurso de Bolsonaro pelo uso de força extrema no combate ao crime, que é rechaçado pelo PT, tem enorme apelo popular. Em geral, por contar com a vantagem de quem nunca comandou o Executivo, Bolsonaro também não precisa mostrar números de sucesso para poder criticar sem piedade os resultados obtidos pelas gestões petistas.
Elevando Bolsonaro à categoria de “inimigo a ser batido”, os petistas ignoram a hipótese de que muitos eleitores podem estar exatamente buscando um anti-herói em quem votar: promovendo o adversário, o PT acabaria por indicar o caminho pelo qual os eleitores podem expressar seu descontentamento com os políticos tradicionais.
É bom lembrar também que Jair Bolsonaro até agora passou incólume pelo turbilhão de denúncias que têm assolado o Brasil nos últimos anos, o que permite um contraponto agudo em relação ao PT. Dessa forma, se insistirem no duelo entre Lula e Bolsonaro, os estrategistas do PT podem estar levando a plataforma eleitoral do partido para nada menos que a aniquilação em 2018.
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