Maria Elvira Salles Ferreira é realmente uma mulher de muitas faces. Professora de português e inglês, profissional de comunicação, fez de tudo um pouco. Empresária de sucesso dirigindo o Colégio Anchieta e fundando o Centro Universitário Newton Paiva. Hoje se dedica ao trabalho voluntariado: é presidente do PSB-Mulher MG; Conselheira da Santa Casa de Misericórdia, diretora emérita da ACMinas; presidente da Associação das Caminhantes da Estrada Real.
Maria Elvira, a pergunta do momento vai para você: sim ou não?
Sim. Tinha que ser. Não é golpe não. Vários ministros do STJ já colocaram a questão da legalidade constitucional, mesmo que informalmente. O governo dos petistas arrebentou o Brasil, acabou com nossa principal estatal, roubaram desavergonhadamente e criminosamente, foram de total irresponsabilidade fiscal e financeira. Uma pena! O Brasil está se debatendo. Um gigante ferido!
Por falar em "sim ou não", você deve lamentar o triste fim de Dilma Roussef, como a primeira mulher presidente do Brasil, mas você é amiga pessoal de Michel Temer. Como vê esta peleja? Vai ter golpe (rsrsrsrs)?
Michel é meu amigo há 25 anos. Cheguei na Câmara Federal em 1998 e ele foi muito legal, já nos conhecíamos das reuniões do PMDB, fui presidente do PMDB Mulher Nacional. Ele é um grande professor de Direito Constitucional, e sempre achei seu comportamento elegante, de líder articulador e agregador. Fui do PMDB 26 anos. Uma Escola, com lições não tão boas, mas em todos os partidos tem gente que só gosta de levar vantagem, e que só usa do dinheiro para comprar apoios eleitoreiros e até se enriquecer. É horrível constatar esses interesses, virando denominador comum na política.
Você saiu da política, do PMDB, mas a política, o PSB, não saiu de você. Política é mesmo cachaça ou Champagne?
Eu gosto de política, acho digno e nobre cuidar dos interesses das pessoas, das populações – que às vezes não sabem se organizar, não tem voz e se dão mal quando conseguem maus representantes. Eu me dediquei com seriedade e amor aos 4 mandatos que exerci. Aprendi muito, ajudei muito, representei bem meus segmentos e eleitores. Ninguém nunca viu meu nome ligado a falcatruas. Tive sempre pavor de sujar meu nome, sempre me preservei, nunca desonrei o nome de minha família. Sempre coloquei mais energia e recursos na representação popular, do que tirei benefícios. Construí boas amizades e deixei leis importantes. Exemplifico com a obrigatoriedade do SUS de reconstruir a mama das mulheres mastectomizadas pelo câncer. Foram 2 anos de luta para conseguir votar e emplacar essa lei. Serra e FHC foram dignos com as mulheres e também comigo nesta votação. Sempre tive coragem de “peitar”, ou seja, enfrentar controvérsias. Só para mostrar isso, lembro que presidi a Comissão Especial na Câmara Federal que analisou o projeto de lei da união civil de pessoas do mesmo sexo. Imaginem isto na década de 90 – a confusão que foi!
Indicada pelo Michel Temer a pedido de Marta Suplicy, que me solicitou essa ajuda (e éramos boas companheiras) fui, lutei, aprovamos o projeto na Comissão Especial. Tive que desligar o microfone de deputados evangélicos e católicos, histéricos durante depoimentos de convidados homossexuais, como no caso do baiano Luiz Mott e seu companheiro há 20 anos, tive que agir duramente e com muita firmeza. Era um clima terrível... Mas voltando, sinto pena da nossa primeira presidente ter se dado tão mal. Me dói como feminista de carteirinha há mais de 30 anos.
Como filha de dois professores, dois educadores, o que sugere contra o caos da educação no Brasil?
A Educação para mim é algo quase sagrado. O início e o fim de tudo. A essência do ser humano: crescer, crescer, desenvolver-se – e isto só é possível através da aprendizagem, da Educação. É preciso aprender a aprender. A consciência para isto deve vir do berço. Os pais passando valores, amor, ensinando limites, desenvolvendo potencialidades – e aí a Escola é complementar, ainda mais nos dias agitados de hoje – cada dia seu papel fica mais importante. Meu neto de 1 ano e meio vai a sua escolinha todos os dias, e gosta muito. É melhor estar lá ou com uma babá? As mães tem direito a estudar, trabalhar , se o desejarem. O mundo mudou, a Educação precisa acompanhar as mudanças. A Educação é responsável pelas grandes transformações ocorridas no mundo, faz verdadeiras revoluções. O investimento tem que ser primeiro na criança. Nenhuma criança pode ficar fora da Escola. É lei, se não estiver lá, é crime! E Escola de boa qualidade, onde não falte merenda, diversão, brincadeiras, atividades paralelas, esporte. Escola como centro da comunidade, como polo transformador e construtor de personalidades, protagonismo social, de cidadania, de bons conteúdos.
Nossos governantes viajam pouco, vivenciam o exterior em apenas rápidas viagens. Viajar á aprender e apreender. Como grande viajante, concorda com isso?
Claro que sim. Conheço 103 países, li sobre todos, fui, a alguns ui mais de uma vez, observei, me encantei ou me horrorizei com a história de guerras e disputas eternas. O importante são os olhos abertos para ver e os ouvidos sem preconceitos para ouvir o novo, a diversidade. Viajei com algumas pessoas que só se preocupavam em fazer fotos e compras. Tudo pode ser, mas melhor de tudo é a oportunidade de ver, ouvir, compreender e aprender.
Sou uma eterna apaixonada pelo mundo, viajante incansável. Deus me dê saúde para poder continuar. Este ano optei pelo Brasil. Mês que vem vamos a Sergipe: o Canyon de Xingó e a Rota do Cangaço. Em julho pelo Caminho das Oliveiras, no sul de Minas.
Você é notória feminista. Mas, aqui entre nós, o outrora sexo frágil e fraco é hoje o contrário disso?
Sim e não. Evoluímos, chegamos a novos espaços, aumentamos a justa ocupação de vagas nas empresas, universidades e serviços públicos. Nos concursos nos saímos bem demais. Mas, no espaço do poder, ainda estamos sem o devido lugar. Veja nas Câmaras Municipais, Assembleia Legislativa, Câmara Federal e Senado. É pífia nossa participação. A lei de quotas para os partidos não funciona bem, pois não é oferecida formação política eficaz e nem financiamento de campanha. Sem um mínimo de recursos não se põe uma campanha na rua (carro, combustível, papel, pessoal). Defendo o financiamento público, o voto distrital misto, a diminuição do número de siglas. Reforma política e embutido nela, a reforma eleitoral.
E acho difícil por estar nas mãos dos deputados. É como colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. Eles não desejam perder nada, não querem mudanças.
Nunca fomos o sexo frágil, a educação sempre fez nossa cabeça para sermos submissas, acomodadas, sem ambições. Tudo pelos outros. Tradição, Família e Propriedade. As mulheres, quando eram abandonadas, não sabiam como sobreviver. Dramas enormes. Hoje todas querem estudar, trabalhar, querem bons salários.
Vamos caminhando, falta muito, vamos de mãos dadas...
Continua caminhando pela Estrada Real, sinônimo de Meio Ambiente?
Somos Embaixadoras da Estrada Real. No primeiro momento fui eu a convidada, mas disse ao então Secretário de Estado de Turismo (que também fui em 2006) que seríamos todas nós as Caminhantes – Embaixadoras. Compartilhamos o interesse e o trabalho planejado, deliberado, permanente e contínuo. A Estrada Real é maravilhosa - pela história, pelos recursos naturais como símbolo da luta pela Liberdade, pelas lindas vilas, hoje cidades pelos caminhos trilhados.
Somos plantadoras de árvores através do projeto “Árvore é Vida”- A Estrada Real foca meio ambiente, verde, matas ciliares, alamedas nas estradas, florestas – tudo que amamos e que queremos reviver, ver renascer.
Que árvore, entre outros bosques de Viena, você mais gosta de plantar?
Plantamos em especial árvores nativas e adoramos árvores que alimentam pássaros (calaburas, etc), ipês (a árvore símbolo do Brasil nas várias cores), o pau-Brasil (em desaparecimento), manacás da serra, oitis, jacarandás-anãs, sibipurunas, quaresmeiras, flamboyants, pau da serra, candeias e árvores nativas da região.
As frutíferas são maravilhosas na beira das estradas e em calçadas também. Só não se pode plantar a árvore errada, senão vem problema. O fícus é lindo, mas traz enormes amolações com as raízes – só para exemplificar, uma arrebentou todo o piso da minha casa na fazenda,com suas raízes que vieram de longe!!! Mas, precisamos desenvolver mais a cultura do amor à natureza, e levar todos a plantarem árvores, que limpam nosso ar e fixam a água no solo.
Esta entrevista é para o Magazine, caderno de cultura. Você, ardorosa correligionária das artes, teria um livro, um filme, uma exposição para deixar aos leitores como dica?
Sou louca por biografias. Já li mais de 50: Churchill, Mauá, Barack Obama, todas as de Juscelino, Martin Luther King, Gandhi. Estou lendo os Diários de FHC e Catarina da Rússia está na fila. No momento estou lendo também Mia Couto, escritor de Moçambique, com ilustrações de um amigo meu Angelo Abu. Estou na fase da poesia: Mário Quintana é meu preferido, Cora Coralina, Drummond, Fernando Pessoa. Adorei um livro do Agripa Vasconcellos chamado Sinhá Brava, a vida da mineira Joaquina de Pompéu. Adoro mulheres fortes – já dei uma contribuição para a campanha de Hillary pela internet. Adoro Frida Kalo, Evita, Chica da Silva, Dona Beja. Leiam-nas! Vou ao cinema toda semana, sozinha ou acompanhada. Sou eclética, gosto de tudo – filme-cabeça, cine-arte, coisas como Mama Mia, musicais, filmes bíblicos. Tenho preguiça de faroeste, até vejo os de galáxia também, mas não vou muito feliz – o último Star Wars admirei a técnica, mas... Tenho gostado das série Netflix: House of Cards, Scandal, Boss, Yellow is Black, entre outros. Prendem demais. Vejo raramente TV – gosto de livros e WhatsApp (vários grupos).
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