Hoje cidadão honorário de Belo Horizonte, Augusto Nunes-Filho preside a Fundação Clóvis Salgado há quase três anos. Médico pela UFMG, psicanalista, com especialização em psiquiatra e gestão hospitalar, e mestrado em filosofia pela Fafich, alternou, em sua vida profissional, um pé na saúde e outro na cultura. Além de textos sobre psicanálise, psiquiatria, saúde mental, Nunes-Filho tem publicado em jornais, desde o final dos anos 90, críticas sobre cinema, teatro, música e artes visuais.
Augusto, se você é cidadão honorário de Belo Horizonte, onde você nasceu?
Em Limoeiro do Norte, no Ceará. Vim para Belo Horizonte em 1973 para cursar medicina e cá estou – até hoje –, rendido aos belos pores do sol que nomeiam a cidade. Há muito tempo me sinto belo-horizontino, mas a cidadania honorária foi um registro que muito me emocionou. Agora registrado em cartório, sou o primo mineiro no Ceará, e o mineiro com um sotaque diferente que está sempre a ouvir perguntas sobre sua origem.
Você é psiquiatra e era médico de homens. Hoje pode ser chamado de médico trabalhando com cultura?
O trabalho com o psiquismo humano pode focar tanto a subjetividade de cada pessoa quanto a produção artística de cada sujeito. Se o trabalho psicanalítico acontece um a um, voltar-se para a arte implica o deslocamento do individual para o coletivo, uma vez que a arte ocupa um lugar de mediação entre eles.
E o que é a Fundação Clóvis Salgado?
É um ícone de Minas, um dos mais importantes complexos culturais do país e responsável pela gestão do Palácio das Artes, da Serraria Sousa Pinto, do Centro Técnico de Produção e da CâmeraSete.
A Fundação Clóvis Salgado, enquanto instituição pública, é uma vocação, um desafio ou um castigo?
Um desafio transformado em missão, com metas a serem sempre perseguidas. Essa tarefa foi assimilada como missão uma vez que, há quase 40 anos, escolhi, com a clareza dos vinte e poucos anos, trabalhar no Estado, a princípio com saúde mental e migrando depois para a cultura.
A fundação é um mundo. Como consegue administrar tudo?
Em verdade, ela é vários mundos! Compatibilizar a gestão com a complexidade artística aliada a melhorias de infraestrutura ou locação de recursos implica fazer escolhas. Considerar que, antes e acima de tudo, trata-se de uma casa pública e tem sido a grande baliza das ações desenvolvidas ao longo desse tempo. Confesso não ser tarefa fácil conduzir uma instituição do porte e complexidade da Fundação Clóvis Salgado. Sua gestão é um processo contínuo de construção que exige disponibilidade, criatividade e presteza.