Música ao vivo pode ser uma tortura. Principalmente se o repertório for chato, e o cantor, desafinado. Outro suplício é se a cantora grita mais do que canta, achando estar no Palácio das Artes. A gente mal consegue conversar com quem está na mesa. Já um ambiente ilustrado pelo DJ Mauro Lobo é sempre um renovado prazer. Além de seu talento, ele tem o bom gosto para o que se fez e faz de melhor na MPB.
Mauro, como vai a boa MPB? Respirando com aparelhos?
De acordo com o cenário sóciocultural e político. Respirando por aparelhos e com pessoas lutando para levar a música através de projetos de incentivo à cultura, até mesmo sem os incentivos.
Nossos ídolos ainda são os mesmos?
Sim, mas os da grande maioria acho que não!
Por falar nisso, o que é a boa MPB?
Uma brisa sonora na sua pele, passando pelos ouvidos, poesia de cama e mesa, perfume, cheiro, orvalho: de canto, de raças, de cultura e tradições; de harmonia. Como dizia Vinicius: “Para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza...”. Essa é a boa musica, a que sai da alma do artista e entra na sua, como uma brisa.
Sem saudosismo, antes era melhor?
Certeza absoluta. Basta ver o que se vende e aliena a grande nação. Existem milhares de compositores brasileiros lutando por um espaço e não conseguem nem sobreviver, enquanto uma batida e um rebolado conquistam milhões.
Qual o seu público ou tua tribo, para o seu repertório luxuoso?
Há um mês estava fazendo o Festival Gastronômico de Favelas e me perguntaram: “Uai, Maurinho, tocando Chico Buarque na favela?”. Respondi “sim”, porque meu objetivo é levar a boa música onde eu estiver. Minha tribo é a que gosta de qualidade. Todos os sábados estou no Anchieta, fazendo o Projeto Sumô Tropical.
Tocar música boa é dar murro em ponta de faca?
No meu caso tem sido, mas, como diz o Paulinho da Viola: “Vejo um samba ser vendido, e o sambista, esquecido, o seu verdadeiro autor: eu estou necessitado, mas o meu samba encabulado, eu não vendo, não, senhor”... Meu trabalho está à disposição com os grandes mestres do Brasil.
Vale a receita do Chico Buarque em “Paratodos”: “Fume Ari, cheire Vinícius, beba Nelson Cavaquinho...”?
Com certeza vale, tudo ficaria muito mais agradável na companhia dos três grandes poetas da MPB.
Qual a canção mais sedutora de um homem para uma mulher, na MPB? Ou quais...?
“Garota de Ipanema”, “Amor Barato”, “Coisas do Mundo Minha Nega”, “Cama e Mesa”, “Disritmia”, “Meu Drama”.
Qual o melhor show que já viu?
Elton Medeiros, Luiz Melodia e Moacyr Luz. E também Alaíde Costa e Aracy de Almeida, tive a honra de abrir os shows.
Que verso colocaria em tua lápide?
“Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar, rir para não chorar. Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar depois que me encontrar”, de Cartola.
Que compositor merecia ilustrar uma nota de R$ 100?
João do Vale de um lado e Nelson Cavaquinho do outro!