No mês passado, a primavera chegou revelando novos humores em relação à economia. Antes mesmo de sua chegada, os primeiros dias do mês já mostravam que a recessão havia ficado para trás.
Observando outros indicadores econômicos e importantes decisões de investidores, pode-se divisar um cenário positivo até o final de 2018 para a expansão da economia, que não será obstruída pela crise política, que, por seu lado, ainda se arrastará até o fim do próximo ano, no mínimo. A economia vai reconquistando a confiança que está abandonando o governo. Segundo recente pesquisa Ibope/CNI, apenas 6% dos brasileiros confiam em Temer. Simultaneamente, a confiança cai no governo e sobe na economia.
Em crises econômicas anteriores, as vulnerabilidades maiores da economia eram a expansão inflacionária e o desequilíbrio no balanço de pagamentos. Hoje, é a baderna fiscal.
A inflação acumulada em 12 meses até setembro estará muito próxima dos 2,46% atingidos em agosto passado. A última vez que se aproximou desse nível foi em março de 2007 (2,96%). Em agosto de 2015, o IPCA anual estava em 9,63%, caindo para 8,87% no mesmo mês de 2016. Essa desaceleração tão rápida dos preços preservou o poder aquisitivo dos consumidores e abriu espaço para a redução das taxas de juros, facilitando a expansão do crédito. A taxa Selic, que estava em 14,25% em setembro de ano passado, foi reduzida para 8,25% no mês passado e poderá continuar baixando nos próximos meses.
O saldo da balança comercial, acumulado nos últimos 12 meses até setembro, aumentou 46,7% de 2016 a 2017, atingindo US$ 52 bilhões; as reservas externas chegaram a US$ 382 bilhões; e o ingresso líquido de investimentos estrangeiros diretos, acumulados em 12 meses até agosto, somou US$ 82,5 bilhões. Houve robustez nas relações externas.
Merecem atenção especial os resultados dos leilões no setor de infraestrutura. Em março, houve a concessão de quatro aeroportos e, fechando setembro, de quatro hidrelétricas, que pertenciam à Cemig, e de blocos de óleo e gás na bacia de Campos, absorvendo investimentos alemães, franceses, suíços, italianos e chineses, além do retorno da ExxoMobil ao Brasil. Nada mais expressivo a indicar a confiança de investidores estrangeiros na economia brasileira.
Sem os riscos do passado, a economia está seguindo sua trajetória de recuperação, podendo crescer em torno de 1% neste ano e de 2% no próximo ano. Contudo, a vulnerabilidade está na política fiscal. A trajetória crescente da relação dívida pública/PIB, consequência dos persistentes déficits orçamentários anuais, pode levar o Estado à insolvência, interrompendo o incipiente ciclo de crescimento econômico que está surgindo. O governo Temer não tem apoio popular, tampouco credibilidade para conduzir as reformas necessárias para obter o equilíbrio fiscal sustentável.
O futuro dependerá das escolhas que os brasileiros fizeram nas próximas eleições. A política, então, determinará o curso da economia.