Em 1980, o governo federal comunicou aos governadores de Minas e de São Paulo que seriam construídos, com recursos financeiros do Orçamento Geral da União, dois aeroportos internacionais, um em cada região metropolitana dos Estados. A localização do aeroporto internacional de São Paulo já estava definida pelo Ministério da Aeronáutica para ser em Cumbica. Caberia ao governo de Minas estabelecer o local para a implantação do aeroporto da região Metropolitana de Belo Horizonte.
Ora, no período de 1965 a 1985, Minas vivenciou uma longa fase de experiências bem-sucedidas de planejamento de médio e de longo prazo nos órgãos da administração direta e indireta estadual. Algumas dessas experiências merecem destaque porque foram concebidas e implementadas a partir de um sistema estadual de planejamento, estruturado com a assessoria técnica internacional do Ilpes/ONU, da Arthur D. Little, da Jica, da GTZ, além do capital intelectual situado nos principais centros de ensino e de pesquisa do Estado.
No setor agropecuário, ocorreu uma revolução científica e tecnológica, com a transformação dos cerrados em áreas de produção competitiva, em nível global, de proteína animal e de proteína vegetal. No sistema de cidades do Estado, aconteceu uma reestruturação, com a promoção das cidades de porte médio a metrópoles de equilíbrio regional. Organizou-se um sistema de promoção industrial que conseguiu atrair para o Estado mais de 400 projetos de investimento no período de 1970 a 1975, com destaque para a Fiat.
Nesse ambiente de planejamento estadual, a missão de localização do aeroporto internacional não ocorreria sem uma visão do futuro sobre um grande projeto de investimento reestruturante do território metropolitano. O governador Francelino Pereira dos Santos entregou essa missão para ser executada pela equipe técnica do Plambel, sob a coordenação do saudoso e competente arquiteto Hailton Curi.
A partir da avaliação de cenários alternativos para a transformação planejada do espaço metropolitano, visando ao bem-estar social sustentável da população, ficou decidido que seria estruturado um novo eixo de expansão da região metropolitana na direção Norte, o vetor Norte, com objetivos multifacetados. As equipes técnicas do Plambel e do Ministério da Aeronáutica pensaram a localização do aeroporto de Confins como estratégia para acomodar, em sua extensa área de influência direta e indireta, uma população metropolitana com crescimento geométrico superior a 5% ao ano, novas bases industriais para a geração de emprego e renda e um novo lugar central para a prestação de serviços terciários e quaternários.
Pode-se afirmar que os objetivos propostos pelo governo do Estado foram atingidos com base em pelo menos duas linhas de argumentação. A primeira de natureza contrafactual: o que teria ocorrido com a infraestrutura econômica e social metropolitana se a localização tivesse sido nas áreas já congestionadas da região, que já apresentavam deseconomias de aglomeração? A segunda, por meio de indicadores georreferenciados de desenvolvimento socioeconômico e socioambiental do tipo estático-comparativo (antes e depois da reestruturação espacial).
As decisões que envolvem o processo de reorganização do espaço socioeconômico se realizam por meio do planejamento do desenvolvimento sustentável no médio e no longo prazo. Sem esse planejamento, os governos correm o risco de concentrar suas ações na gestão cotidiana das questões de curto prazo, com perda de uma perspectiva criativa e abrangente dos problemas e das potencialidades do Estado.