Ainda não há muito que comemorar sobre a atual situação da economia brasileira. A experiência de austeridade fiscal que vem sendo realizada desde 2015 deu um passo à frente e dois para trás. A queda da inflação foi uma conquista dessa política econômica. Recompôs o poder de compra da massa salarial, principalmente dos grupos sociais de baixa renda, em cujo orçamento o peso com alimentação é mais significativo. Por outro lado, a queda da taxa básica de juros que acompanhou a queda da inflação não chegou aos serviços bancários, que interessam a todos os consumidores e produtores. O oligopólio dos bancos continua a praticar as mais altas taxas do mundo, num comportamento típico de agiotagem financeira. Enquanto a taxa básica definida pelo Banco Central está em 6,5% ao ano, o custo médio dos empréstimos para pessoas físicas nos bancos é de 33% ao ano (cinco vezes maior), e a taxa média do cheque especial é de 324% ao ano (50 vezes maior).
Dos dois passos para trás, o primeiro: de acordo com o IBGE, a situação de extrema pobreza no país passou de 13,3 milhões em 2016 para 14,8 milhões em 2017, ou seja, 1,5 milhão de brasileiros se tornaram miseráveis ao longo de um ano. Num contexto de baixo crescimento, a concentração de renda aumentou: a renda mensal do 1% mais rico é 36 vezes maior em relação à renda mensal da metade mais pobre da população.
O segundo passo para trás: somando a taxa de desemprego aberto com a taxa de subemprego e com a taxa dos desalentados (os que deixaram de procurar emprego), chegamos a 26 milhões de brasileiros descontentes, após três anos de perda da qualidade de vida das classes sociais C, D e E. Houve uma piora no fechamento de postos de trabalho com carteira assinada, os quais têm garantias trabalhistas e pisos salariais, com o crescimento simultâneo das ocupações informais nos mercados de trabalho.
O que mais impressiona é o conformismo político da maioria dos formadores de opinião pública com o atual status quo socioeconômico do Brasil. Talvez a explicação para essa postura conservadora de líderes empresariais, políticos e comunitários esteja na figura do “Homo oeconomicus”, que vem sendo forjada pelo capitalismo desde sua origem, na fase final da Idade Média. Mas quem é o “Homo oeconomicus” nas atuais economias mistas de mercado?
Albert Hirschman analisou o papel do interesse individual que se tornou funcional na formação das economias capitalistas desde o século XVI até os tempos atuais, considerando o tripé das funções do sistema: crescer, estabilizar e distribuir.
Ao longo do tempo foi se configurando um indivíduo isolado, orientado pelo interesse próprio, que escolhe, livre e racionalmente, entre os cursos alternativos de ação, após estimar os custos e os benefícios prospectivos para si, ignorando, ao mesmo tempo, os custos e os benefícios para outras pessoas e para a própria sociedade. Hirschman destaca dois elementos essenciais que caracterizam a ação impulsionada pelo interesse individual: autocentrado, isto é, atenção predominante do ator para as consequências de qualquer ação quando consideradas para si mesmo; e cálculo racional, isto é, um esforço para avaliar custos, benefícios, satisfações prospectivas.
Enfim, o “Homo oeconomicus” é produtor e consumidor, mas não pratica a cidadania. Em 1776, Adam Smith já afirmava: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm de seu próprio interesse. Nós nos dirigimos não a sua humanidade, mas a sua autoestima, e nunca lhes falamos de nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles”.
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