A atual política econômica do governo aumentou significativamente o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Em 2014, eram 16,2 milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza; em 2016, esse número passou para 24,8 milhões. Em dois anos, houve um crescimento de 53% no número dos que se tornaram extremamente pobres. A situação mais grave dessa miserabilidade é a dos sem-teto, sem-renda, sem-riqueza e sem-oportunidades a qual denominei de “pobreza andarilha”, pois lembra a imagem de indivíduos e famílias perambulando sem destino e sem esperança nos grandes centros urbanos do país.
Em 1798, o reverendo Thomas Robert Malthus publicou na Inglaterra um livro clássico no qual previa que o crescimento geométrico da população versus a evolução da produção mais lenta de alimentos iria induzir a formação de um número inquestionável de miseráveis na sociedade. Felizmente, Malthus se equivocou sobre a evolução de ambas as séries estatísticas que analisou. O progresso científico e tecnológico da agropecuária ampliou enormemente a produtividade por hectare nas zonas rurais em muitos países, e mudanças nas taxas de mortalidade e de fecundidade evitaram a explosão demográfica no planeta.
Os cerrados brasileiros, por exemplo, que ocupam cerca de 60% de nosso território, constituem, atualmente, um dos mais expressivos celeiros mundiais de produção de proteína animal e vegetal. E o progresso tecnológico não para de avançar no campo, com destaque para a agricultura de precisão nas lavouras capitalizadas de muitas nações.
Por outro lado, se o cenário de altas taxas de fertilidade mais próximo do pensamento de Malthus se realizasse nos países mais pobres, a população mundial chegaria a 28,6 bilhões em 2100, quatro vezes maior do que a atual. A ONU considera que esse cenário subestimou não apenas a queda nas taxas de mortalidade infantil e geral, mas também o papel das condições sociais das famílias e de sua liberdade de escolha sobre o custo de oportunidade de ter mais filhos. A ONU considera mais plausível a continuação das tendências recentes que estimam a taxa anual de crescimento em 1,1% e a população total em 10,8 bilhões em 2100.
Mas a sombra de Malthus ainda continua a nos atormentar. Países pobres, com altas taxas de fertilidade, estão envoltos numa “armadilha demográfica”: têm muitas crianças, e cada criança tem mais chance de crescer pobre, formando um círculo vicioso entre alta fertilidade e pobreza. A FAO destaca a necessidade de manter um ritmo acelerado das inovações, pois 800 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo e, “em razão dos impactos das mudanças climáticas, os antigos riscos e incertezas com relação à produção de alimentos estão voltando”. Ou seja, da mesma forma que Malthus subestimou o progresso tecnológico, os economistas estão subestimando os danos e as perdas ambientais que comprometem o processo de desenvolvimento sustentável.
Philip Kotler destacou, em livro recente, 14 limitações do capitalismo moderno que precisam ser superadas, destacando que o sistema apresenta pouca ou nenhuma solução para a pobreza persistente, gerando um nível crescente de desigualdade de renda e de riqueza. Lembra o que Adam Smith afirmava em 1776: nenhuma sociedade certamente poderá ser próspera e feliz se a maioria de seus membros for pobre e miserável. É o caso do Brasil, um país com imensas potencialidades de desenvolvimento, mas cujas instituições econômicas e político-institucionais continuam a produzir desigualdades e assimetrias sociais.
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