Se tem algo especial na profissão de jornalista especializado na cobertura automotiva são as muitas oportunidades de vivenciarmos situações que dificilmente quem não atua na área teria como experimentar. Dedico este espaço, nesta e nas próximas semanas, para relembrar uma das mais incríveis experiências que tive o privilégio de participar.
Neste caso, refiro-me a uma viagem à cidade francesa de Le Castellet, onde fica o circuito de Paul Ricard, que, aliás, está de volta ao circo da Fórmula 1 neste ano. Foi para saber como é acelerar um carro de F-1 que estive lá. Mas muitas situações periféricas envolveram essa aventura, que posso definir como espetacular. O dia mal havia clareado, e era chegada a hora do despertar, e a única certeza que vinha em minha mente era que aquela quarta-feira, 3 de julho de 2013, ficaria marcada para sempre em minha memória.
De olhos fechados, viajei no tempo e voltei ao longínquo ano de 1977, quando, ainda adolescente, acompanhei meu pai, de quem viria seguir no futuro os mesmos passos no jornalismo automotivo, a uma entrevista concedida pelo piloto José Carlos Pace, então piloto da equipe Brabham da F-1, patrocinada pela cervejaria Brahma. Por esse motivo foi na sede daquela fábrica, em Juatuba, próximo a Mateus Leme, o local do encontro com a imprensa especializada de BH.
Moco, como era carinhosamente chamado pelos mais próximos, ganhou logo a simpatia dos jornalistas, que o bombardearam com as mais diversas perguntas. Até eu tomei coragem e pedi licença para perguntar para o “meu amigo” Moco qual o circuito da F-1 que ele mais gostava de pilotar. Sem titubear, veio de bate-pronto a resposta: Paul Ricard, na França.
Nunca poderíamos imaginar que aquela entrevista seria uma despedida definitiva, para sempre. Menos de um mês após, um acidente de avião, um Bandeirante, no começo da noite de um domingo vitimou fatalmente Moco e seu amigo, também piloto, Marivaldo Fernandes. Ainda jovem, senti aquela morte como a de uma pessoa próxima. Se o Brasil perdeu um futuro campeão, eu senti que foi embora alguém com quem eu teria ter tido a oportunidade de conviver outras vezes.
Passados 36 anos, naquela cama do hotel Best Western Grand Prix, Moco me pareceu mais vivo do que nunca. Eu estava em Le Castellet, a 50 km de Marselha, e ao lado do circuito de Paul Richard. Dali a algumas horas, teria uma experiência que nunca, jamais, em tempo algum, por mais fértil fosse minha imaginação, poderia pensar: iria pilotar, ou, para ser mais preciso ter a sensação de poder acelerar um carro de F-1. Justamente lá, no autódromo que meu “amigo” Moco mais gostava de correr. Uma prova mais do que realista da máxima que titula este artigo: as voltas que o mundo dá. Era muita emoção para uma pessoa só! E o dia só estava começando
Continua na próxima semana